Meio Ambiente
22 de Outubro de 2025 às 12h40
COP30: vice-PGR defende necessidade de descapitalizar organizações criminosas para frear crimes ambientais
Segundo ele, o Ministério Público deve atuar de forma estratégica, preventiva e repressiva, para proteger o meio ambiente
Foto: Antônio Augusto/Comunicação/MPF
A relação entre o crime organizado transnacional e os crimes ambientais foi um dos temas discutidos nesta quarta-feira (22), durante o Fórum de Procuradores-Gerais para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA). No evento, o vice-procurador-geral da República, Hindenburgo Chateaubriand, destacou a necessidade de identificar as fontes de financiamento do crime ambiental, para desarticular as redes criminosas transnacionais.
“Acreditamos que o futuro do combate ao crime ambiental passa pela nossa atuação estratégica, preventiva e repressiva, usando a tecnologia para descapitalizar organizações criminosas e proteger o patrimônio brasileiro”, afirmou. Nesse sentido, ele citou operações realizadas no Brasil, com a participação do MPF. É o caso da Rios Voadores, que desarticulou a maior organização criminosa envolvida em desmatamento e grilagem no Pará. O grupo movimentou mais de R$ 1 bilhão de reais (200 milhões de dólares) entre 2012 e 2015.
Já a Operação Pronta Resposta, em parceria com Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal fez a maior apreensão de ouro ilegal na história do Amazonas. Foram 47kg de ouro de alta pureza apreendidos, avaliados em aproximadamente 2,8 milhões de dólares. “O crime ambiental na Amazônia é um produto final de uma rede complexa e altamente lucrativa”, pontuou. Por isso, é fundamental, nas investigações, identificar a prática de outros crimes relacionados, como lavagem de dinheiro e evasão fiscal, para conseguir responsabilizar os envolvidos e reparar os danos causados à sociedade.
Prevenção – No fórum, o vice-PGR também destacou a atuação preventiva do MPF na proteção do meio ambiente. Ele falou sobre o Projeto Amazônia Protege, que usa imagens de satélite e cruzamento de dados para identificar os responsáveis pelo desmatamento ilegal. O objetivo é frear a destruição do bioma, que registra cerca de 50 mil crimes de desmatamento ilegal anualmente.
As informações servem de base para as ações civis públicas apresentadas à Justiça, buscando a reparação do dano causado. “O criminoso é forçado a arcar com os custos financeiros da reparação e compensação, minando sua capacidade de reinvestir na atividade ilegal”, afirmou. Entre 2017 e 2023, o MPF apresentou mais de 3,5 mil ações à Justiça e conseguiu recuperar área de floresta equivalente a mais de 80 mil campos de futebol. Além disso, a Justiça determinou o pagamento de mais de R$ 316 milhões em indenizações.
Hindenburgo citou ainda outras ações do MPF voltadas à proteção do meio ambiente, como o Carne Legal; o combate à venda de mercúrio usado na mineração irregular; o acordo firmado com a empresa Starlink para impedir o uso de internet via satélite por criminosos na Amazônia Legal (Projeto Rede sem Mercúrio); e ações preventivas na bacia do Rio São Francisco (FPI São Francisco) e em região de mangues (Aifa). “O trabalho do MPF brasileiro não se limita a punir o crime já cometido; mas se concentra em desmantelar a base econômica e logística da atividade ilícita”, concluiu o vice-PGR.
Cooperação jurídica – Durante o encontro, os procuradores-gerais defenderam a necessidade de fortalecer a cooperação internacional e a troca de informações estratégicas entre países para frear as mudanças climáticas e preservar o meio ambiente. O procurador-geral do Azerbaijão, Kamran Aliyev, disse que a destruição ambiental é um problema global e alarmante, visto que representa uma das mais rentáveis fontes de recursos para a prática de outros crimes, como tráfico de drogas e de pessoas. “Precisamos atuar de forma integrada para desarticular essas organizações criminosas”, afirmou.
Estudo publicado em 2023 pelo Instituto Igarapé, aponta que o crime ambiental movimenta entre 110 bilhões e 281 bilhões de dólares por ano no mundo. Segundo o procurador-geral do Paraguai, Emiliano Fernandéz, esses lucros são “lavados”, em complexos mecanismos financeiros, para que retornem ao sistema formal. “A relação entre os ilícitos ambientais e as organizações criminosas transnacionais exigem não só um compromisso firme, mas visão estratégica e cooperação efetiva entre os Ministérios Públicos dos países”, pontuou Fernandéz.
Em Moçambique, as limitações técnicas e de acesso a tecnologias que facilitam a análise de dados financeiros ainda é um desafio na identificação da lavagem de dinheiro associada aos crimes ambientais, conforme pontuou a vice-procuradora-geral de Moçambique, Irene da Oração Afonso. Ela mencionou que, no ano passado, o Ministério Público apreendeu mais de 600 dentes de marfim no país que seria comercializados. No entanto, os procuradores ainda enfrentam dificuldades em comprovar a relação do crime com outros delitos, como a lavagem de dinheiro.
Segundo o procurador-geral de Portugal, Amadeu Guerra, identificar o rastro do dinheiro, a partir de investigação patrimonial – para confiscar as vantagens que os criminosos obtém com a prática de crimes ambientais – é o melhor caminho para desarticular redes criminosas. “Obter a responsabilização penal e financeira dos agentes permite reparar os danos e mostrar que a prática ilegal não compensa”, concluiu.
Ao final do dia, os procuradores vão aprovar a Carta de Belém (PA), com os compromissos assumidos pelos Ministérios Públicos dos 15 países que participam do encontro.
Confira as fotos do evento no Flickr do MPF
Secretaria de Comunicação Social
Procuradoria-Geral da República
(61) 3105-6404 / 3105-6408
pgr-imprensa@mpf.mp.br
facebook.com/MPFederal
x.com/mpf_pgr
instagram.com/mpf_oficial
www.youtube.com/canalmpf
Fonte MPF