Geral
30 de Maio de 2025 às 14h47
Procurador Julio Araujo recebe Medalha Tiradentes por atuação em defesa dos direitos humanos
Cerimônia no Centro Cultural da Justiça Federal homenageia procurador com trajetória marcada pela escuta, presença e compromisso com os mais vulneráveis
Foto: Comunicação/MPF
“Procurador Julio Araujo presente na luta pelo direito de morar.” A frase, escrita à mão em uma cartolina, dava o tom da cerimônia realizada na última terça-feira (27), na sala de sessões do Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), na Cinelândia. Era apenas uma das várias manifestações que podiam ser vistas ali – cada uma refletindo a pluralidade de pautas e vozes que o procurador da República mobilizou ao longo de sua carreira. Direitos da população negra, reforma agrária, moradia e combate à intolerância religiosa foram temas lembrados durante a solenidade que lhe concedeu a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
A homenagem foi uma iniciativa da deputada estadual Marina do MST e reuniu representantes de movimentos sociais, lideranças religiosas, servidores públicos, defensores de direitos humanos e colegas de instituição. A distinção, que reconhece personalidades que prestam relevantes serviços à causa pública, foi entregue a Julio Araujo por sua atuação firme e comprometida com os direitos fundamentais, muitas vezes nos campos mais desafiadores da atuação do Ministério Público Federal.
Durante sua fala, Marina destacou que “se há uma pessoa que espelha o compromisso com os trabalhadores e as trabalhadoras em defesa de seus direitos, historicamente violados, é o nosso companheiro Julio”. Para ela, a trajetória do homenageado é a de alguém que “tem pisado o chão da fábrica, dos assentamentos e acampamentos rurais sem terra, dos territórios quilombolas e indígenas, das favelas, da moradia ocupada por tanta gente que só quer ver esse direito constitucional ser concretizado”.
Reconhecimento vindo da luta – “Ele ajudou o povo a ter água, ajudou o povo a ficar na terra”, disse Márcia Lobão, da caravana de Volta Redonda, relembrando a atuação do procurador na luta contra a concessionária da BR-393. “Nós tínhamos centenas de famílias que estavam para ser despejadas. Quando ele chegou, ele nos fez avançar nessa luta.” Márcia foi uma das que atravessaram o estado para prestar homenagem a quem, segundo ela, também enfrentou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) ao tentar resgatar para uso público patrimônios abandonados após a privatização.
Já Arlene de Katendê, liderança de terreiro na Baixada Fluminense, destacou a atuação de Julio ao lado das comunidades religiosas afro-brasileiras. “Aprendemos muito com o doutor Julio. Aprendemos que nós temos direitos, nós temos deveres. Ele sempre falava isso com a gente em todas as reuniões.” Em sua fala, Arlene destacou ainda a sensibilidade do procurador ao se engajar em outras frentes de exclusão social, como a população em situação de rua. “É uma amizade que vai além da questão de ele ser um procurador. Ele é um amigo dos menos favorecidos.”
O defensor público federal Thales Arcoverde reforçou a constância da atuação de Julio. “Eu não lembro de qualquer demanda que tenha chegado para o Julio e que saiu sem resposta. Com o Julio a gente pode contar às dez horas da noite no domingo.” Para Thales, a entrega da Medalha Tiradentes “é uma homenagem mais do que justa” e celebra uma trajetória profissional orientada pela ética, pelo rigor técnico e pelo afeto.
Um procurador fora dos gabinetes – Durante a cerimônia, o procurador-chefe da PR-RJ, Sérgio Pinel, resumiu o que considera o diferencial da trajetória do homenageado: “Nós no Ministério Público Federal temos duas opções de atuação: sentados nos nossos gabinetes, aguardando as demandas chegarem, de maneira bastante burocrática, ou uma posição proativa, considerando os destinatários da nossa atuação, que são as pessoas que estão aqui presentes. O Julio optou por essa segunda opção”.
Babalawo Ivanir dos Santos, professor e orientador no Programa de Pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também ressaltou essa presença ativa nas ruas e no diálogo com as instituições: “O compromisso do doutor Julio é inegável. Ele tem uma capacidade de buscar sempre uma forma na legislação de garantir direitos. Isso é que é importante observar”. Ivanir lembrou ainda a atuação de Julio no enfrentamento da intolerância religiosa e em articulações com a segurança pública. “Hoje o Disque 100 recebe denúncia de intolerância religiosa e isso surgiu justamente desse diálogo.”
A parlamentar Maíra do MST, vereadora no Rio de Janeiro, chamou atenção para o simbolismo do ato. “O evento lotado mostra não só o merecimento dessa medalha para o doutor Julio enquanto pessoa, mas sobretudo em relação às pautas que ele defende. Quando os mecanismos de repressão do Estado ferem os direitos humanos, doutor Julio se consolida como um grande parceiro dos movimentos sociais.”
Ana Paula Saraiva, coordenadora do acampamento Cícero Guedes, emocionou-se ao lembrar que “quando queriam expulsar a gente das áreas, foi o doutor Julio que estava lá”. E completou: “Aqueles que lutam a vida inteira são imprescindíveis, e o doutor Julio é um deles”.
“Fazer junto” – Em seu discurso de agradecimento, Julio Araujo falou sobre a importância de construir um Ministério Público conectado com o povo: “Nossa instituição tem um papel. E é importante que a gente se valha dela para ficar do lado dos mais pobres, dos mais vulneráveis, dos sem-terra, dos sem-teto, dos camelôs…”.
O procurador relembrou sua trajetória e destacou os aprendizados junto aos movimentos sociais. “Tudo que eu faço, eu aprendi com vocês. Aprendi com o MST, com os movimentos populares de moradia, com os povos indígenas, com as comunidades tradicionais… Com vocês todos.”
Antes de chegar ao Rio de Janeiro, Julio atuou como procurador-chefe na Procuradoria da República no Amazonas, onde idealizou os projetos MPF na Comunidade e MPF em Movimento, com o objetivo de aproximar a instituição das populações tradicionais e indígenas da região. A experiência marcou sua atuação como alguém disposto a sair da sede institucional para escutar quem mais precisa.
Do Amazonas, transferiu-se para o estado do Rio de Janeiro, passando pelas Procuradorias da República nos Municípios de Volta Redonda e São João de Meriti, até chegar à capital, onde atuou junto à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) e se consolidou como uma das principais referências do MPF no trabalho em prol dos direitos fundamentais.
A Medalha Tiradentes foi recebida, segundo Julio, como uma oportunidade coletiva de reafirmar compromissos: “É um reconhecimento, fico muito honrado. Ainda mais por ser desse jeito. Uma homenagem do jeito que a gente gosta, do jeito que a gente sabe fazer. Mas amanhã é outro dia. Temos mais lutas a fazer, violações a combater. E vocês podem contar comigo”.
Assessoria de Comunicação Social
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Fonte MPF