MPF recorre para garantir retomada de atendimento especializado a pessoas trans no Hospital das Clínicas de Goiás — Procuradoria da República em Goiás

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Direitos do Cidadão

3 de Dezembro de 2024 às 16h16

MPF recorre para garantir retomada de atendimento especializado a pessoas trans no Hospital das Clínicas de Goiás

População enfrenta fila de até dois anos para primeira consulta em atendimento especializado no estado

Foto mostra detalhe do tronco de pessoa com jaleco branco, estetoscópio pendurado no pescoço e, na mão, em frente ao corpo, um coração com faixas nas cores azul, rosa e branco


Foto ilustrativa: Canva

O Ministério Público Federal (MPF) recorreu ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) buscando garantir a retomada dos serviços especializados do Processo Transexualizador no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG). O recurso – agravo de instrumento – visa obrigar a União a liberar, de forma emergencial, recursos necessários para restabelecer o atendimento, sob pena de multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento. 

Os serviços do Processo Transexualizador incluem cirurgias de redesignação sexual, atendimento ambulatorial, terapias hormonais e suporte psicossocial, previstos pela Portaria GM/MS nº 2.803/2013. No entanto, a interrupção do atendimento pelo HC/UFG resultou em filas de espera excessivas, com pacientes aguardando até dois anos para uma consulta inicial no único centro alternativo no estado, o Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG).

Em decisão anterior, a 9ª Vara Federal de Goiás negou o pedido de tutela antecipada, argumentando que não havia comprovação de urgência suficiente para intervenção judicial. No entanto, o MPF, representado pela procuradora da República Mariane Guimarães, alega que a interrupção do serviço afeta gravemente a saúde física e mental da população trans, violando os direitos fundamentais à saúde e à dignidade humana, garantidos pelos artigos 6º e 196 da Constituição Federal.

O MPF reforça que o HC/UFG foi responsável, durante mais de duas décadas, por 82 cirurgias de redesignação sexual, mas a paralisação ocorreu por falta de profissionais, muitos dos quais atuavam de forma voluntária. Para superar o problema, o recurso propõe a contratação emergencial de equipe multiprofissional ou a capacitação de profissionais já vinculados à instituição, como realizado no Hospital Geral de Goiânia (HGG).

Além disso, o MPF solicita que o HC/UFG assuma medidas para encaminhar pacientes ao HGG enquanto os serviços não forem retomados, garantindo atendimento à população que atualmente sofre com a desassistência. O recurso também enfatiza que o atendimento especializado não é apenas uma questão de política pública, mas uma obrigação estatal solidária, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do Tema 793.

O Processo Transexualizador foi instituído no SUS em 2008 e integra uma série de serviços destinados a garantir o direito à saúde e à identidade de gênero. No estado de Goiás, a interrupção do atendimento pelo HC/UFG evidencia a insuficiência da oferta existente, agravada pela demanda crescente e pela ausência de ação coordenada entre os entes federados.

Com o recurso, o MPF busca reverter a decisão e assegurar que o HC/UFG retome suas atividades de forma plena, promovendo o direito à saúde e à dignidade da população trans em Goiás.

Agravo de Instrumento nº 1041334-89.2024.4.01.0000

Consulta processual

Fonte MPF