MPF recomenda que PM Ambiental de São Paulo deixe de aplicar sanções a pescadores caiçaras da Ilha do Cardoso — Procuradoria da República em São Paulo

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Comunidades Tradicionais

10 de Dezembro de 2024 às 13h50

MPF recomenda que PM Ambiental de São Paulo deixe de aplicar sanções a pescadores caiçaras da Ilha do Cardoso

Comunidades locais têm amparo em acordo que será assinado em breve, com regras para pesca artesanal na Estação Ecológica Tupiniquins

Foto de casa de madeira em área de praia, com morro coberto de vegetação ao fundo e pequenos barcos de pesca em frente à casa, na areia


Foto: Rodrigo Accurcio/Flickr

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou que a Polícia Militar Ambiental de São Paulo deixe de coibir atividades pesqueiras de comunidades caiçaras na Ilha do Cardoso, em Cananeia (SP), até 31 de março de 2025. Essa é a data prevista para a assinatura de um termo de compromisso dos grupos tradicionais locais com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) que garantirá a continuidade da pesca artesanal em áreas da Estação Ecológica Tupiniquins. 

De acordo com a recomendação, enquanto o acordo não for concluído, os policiais não devem aplicar sanções a moradores das comunidades Foles e Cambriú por práticas que o pacto em discussão prevê como sustentáveis e imprescindíveis à subsistência das famílias.

O termo de compromisso em andamento já resultou no reconhecimento formal da existência dos grupos caiçaras na unidade de conservação. Ainda assim, integrantes das comunidades receiam que a Polícia Militar Ambiental siga ignorando a legitimidade dessa ocupação ao inspecionar a pesca artesanal desenvolvida há gerações na área, antes mesmo da criação da estação ecológica. Agentes da corporação têm considerado as normas ambientais de preservação sem levar em conta o caráter tradicional e sustentável da pesca local, tornando-a praticamente ilegal para efeito de fiscalização.

Participação das comunidades – A minuta do termo de compromisso foi elaborada a partir de um processo participativo conduzido pela Articulação de Povos e Comunidades Tradicionais da Ilha do Cardoso. O texto inclui a indicação das modalidades pesqueiras autorizadas e das espécies de peixes permitidas para captura, a restrição das atividades a pescadores cadastrados e a proibição de práticas como a pesca em períodos de reprodução dos animais.

O documento foi apresentado ao ICMBio e a órgãos gestores de outras unidades de conservação do litoral sul paulista em uma reunião em 10 de outubro, em Cananeia. Representantes do instituto reconheceram a qualidade técnica do trabalho e prometeram encaminhar ainda em janeiro de 2025 o parecer técnico que viabilizará a assinatura do acordo.

Ao expedir a recomendação, o MPF destacou a “forte plausibilidade do caráter ambientalmente sustentável do acordo proposto” e ressaltou a compatibilidade da preservação ambiental com o exercício dos direitos de populações caiçaras, garantidos na Constituição, em leis e em compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.

Os pedidos foram direcionados a três pelotões da Polícia Militar Ambiental que atuam na região. A corporação terá dez dias para informar o acatamento.

Recomendações são instrumentos de atuação extrajudicial do MPF na busca por soluções mais ágeis para irregularidades na esfera cível. Em caso de descumprimento, destinatários dos pedidos ficam sujeitos a medidas judiciais, como o ajuizamento de ações civis públicas.

Recomendação nº 16/2024

Ministério Público Federal (MPF)
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Fonte MPF