MPF recomenda que plano de redimensionamento escolar em Vila Bela (MT) tenha participação de comunidade quilombola — Ministério Público Federal em Mato Grosso

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Comunidades Tradicionais

21 de Agosto de 2025 às 14h25

MPF recomenda que plano de redimensionamento escolar em Vila Bela (MT) tenha participação de comunidade quilombola

Secretarias Estadual e Municipal de Educação devem respeitar o direito da comunidade à consulta prévia, livre e informada

Foto tirada em dia ensolarado mostra a obra de construção de unidade escolar quilombola no município de Vila Bela da Santíssima Trindade. A obra está  passando da fase de alvenaria para a de acabamentos, com aplicação de reboco nas paredes internas e externas.


Obra de construção de unidade escolar quilombola. Foto: Câmara Municipal de Vila Bela

O Ministério Público Federal (MPF) instaurou inquérito civil para apurar se o plano de redimensionamento da unidade escolar quilombola do município de Vila Bela da Santíssima Trindade (MT) respeitou o direito da comunidade a ser consultada previamente sobre as políticas públicas voltadas para suas necessidades educacionais. O acompanhamento foi motivado por relato da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), que questionou o plano proposto pela Secretaria Estadual de Educação do Mato Grosso (Seduc-MT) para a única escola quilombola que atende o município.

“O MPF recomendou à Seduc-MT e à Secretaria de Educação de Vila Bela da Santíssima Trindade que, nos processos de redimensionamento em curso, observem o direito de consulta prévia, livre e informada das comunidades quilombolas”, informa o procurador da República Ricardo Pael Ardenghi, titular do 1º Ofício dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais (OPICT) do MPF no Mato Grosso. Tal direito está previsto na Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.

A partir do diálogo entre esses atores e a comunidade quilombola espera-se assegurar que os remanescentes quilombolas sejam devidamente informados sobre os motivos que levaram ao redimensionamento e a forma como as medidas acontecerão, podendo, inclusive, intervir no processo, já que a consulta deve ser feita de boa-fé, como assegura o artigo 6º da Convenção n. 169 da OIT.

A participação da comunidade busca assegurar, entre outras coisas, que não haja retrocesso na educação escolar quilombola, respeitando e fortalecendo as tradições e o conhecimento ancestral. O objetivo é garantir uma educação que de fato represente e empodere essas comunidades, permitindo a preservação e a difusão de sua identidade.

Atuação do MPF – De acordo com o procurador, “o MPF apurou que o processo de redimensionamento da única escola quilombola do município foi conduzido sem uma efetiva participação da comunidade, que não estava suficientemente informada e esclarecida sobre as razões e as medidas que seriam adotadas”. Em reunião virtual com representantes da comunidade, a Seduc esclareceu como o redimensionamento escolar funcionaria, os motivos para a transferência, a norma aplicada e demais informações pertinentes. Na ocasião, ainda foi informado que o Plano de Redimensionamento Escolar foi ajustado entre a secretaria estadual e a prefeitura municipal.

Segundo a Seduc, toda a demanda local dos anos finais do ensino fundamental regular, do 6° ao 9° ano, e ensino médio regular, será atendida pela Escola Estadual ‘Verena Leite de Brito’, que seguirá sendo uma escola quilombola. Já a demanda dos anos iniciais do ensino fundamental passará a ser temporariamente atendida pela Escola Municipal Ricardo Franco. A secretaria também informou que foi celebrado um convênio para a construção de uma nova escola quilombola para a rede municipal no município.

A efetivação do redimensionamento e a conclusão da obra da nova escola serão acompanhadas pelo MPF, que já recomendou às secretarias de educação a observância do direito de consulta prévia, livre e informada em todo o processo.

Obra – A Seduc informou que a escola municipal quilombola, que está sendo construída, receberá um reforço nas obras: o governo estadual afirmou que criará uma força-tarefa em conjunto com a construtora, para a conclusão da obra se dê ainda este ano, de forma a poder receber os alunos a partir de 2026.

O último censo publicado pela Seduc mostra que a rede estadual de ensino, que atende cinco comunidades quilombolas dos municípios de Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio de Leverger, Chapada dos Guimarães, Barra do Bugres e Vila Bela da Santíssima Trindade, conta com 1.990 estudantes matriculados na modalidade quilombola em escolas estaduais.

 

Assessoria de Comunicação
Ministério Público Federal
Procuradoria da República em Mato Grosso
saj.mpf.mp.br
(65) 3612-5133

Fonte MPF