Direitos do Cidadão
31 de Janeiro de 2025 às 20h39
MPF realiza roda de conversa “Feminismo e novas masculinidades” e retoma série de debates sobre equidade no RJ
Evento destacou como o machismo afeta mulheres e homens, o papel da educação no combate à violência de gênero e os desafios culturais
O procurador chefe da do MPF no RJ, Sérgio Pinel, a palestrante Antônia Burke e o procurador Stanley Valeriano, no auditório do Memorial da PRRJ. Foto: Comunicação/MPF
“Quando eu tinha treze anos, minha mãe não deu conta e me mandou de volta para morar com o meu pai. A mesma pessoa que tantas vezes a violentou. Eu sou surda de um ouvido e tenho várias sequelas nas costas, de tanta violência física que eu passei durante esse período. E alguns podem até pensar ‘nossa, que crueldade!’ Mas o que ela ia fazer? Ela não tinha recurso nenhum.” Foi com o relato da própria vivência na infância que a professora Antônia Burke abriu a Roda de Conversa “Feminismo e novas masculinidades”, na última quarta-feira (29), realizada pelo Ministério Público Federal (MPF) no Auditório do Memorial da Procuradoria da República no Rio de Janeiro (PR/RJ).
Na ocasião, Antônia Burke fez questão de destacar a urgência do tema: “A minha é só mais uma história. Aqui tem muitas outras”. Promovido pela Comissão Pró-Equidade de Raça e Gênero da PR/RJ, o evento estimulou várias reflexões sobre as dinâmicas de gênero e seus impactos na sociedade. A palestrante convidada, com formação em Letras e Psicanálise e vasta experiência em preparo socioemocional de jovens, é também diretora de educação no Voz Futura, autora do Programa Raízes e colunista na Revista Vida Simples e no Jornal O Globo. Ela abordou temas como o papel da educação no combate à violência de gênero e os efeitos do machismo, que afetam não apenas as mulheres, mas também os homens.
“Quantos homens sofrem com machismo? ‘Eu tenho que botar dinheiro em casa’, ‘eu tenho que ser o cara’, ‘minha mulher não pode ganhar mais do que eu’. E assim, vai todo mundo junto se afundando”, destacou Burke. Outro aspecto abordado por ela foram barreiras para que os homens falem sobre seus sentimentos. “Eles têm amigos com os quais jogam bola, bebem, fazem uma coisa ou outra. Mas é muito difícil você encontrar homens que conversam de fato sobre a vida deles.”
A plateia também participou ativamente da roda de conversa, trazendo temas fundamentais, como a dificuldade das mulheres em reconhecer o paralelo entre o que é falado sobre violência de gênero e a realidade que elas vivem. Além disso, foi destacado o desafio enfrentado pelas vítimas ao tentarem falar sobre o que passaram, muitas vezes devido à falta de acolhimento e de compreensão, o que dificulta ainda mais o processo de busca por ajuda e apoio.
Por fim, a professora deixou a seguinte mensagem: “Feminismo não é odiar homens. Feminismo não é ser menos feminina. Feminismo é, basicamente, termos o direito de existir da mesma forma que os homens. É não ser morta, é passar na rua e não ter um homem para se achar no direito de falar algo totalmente agressivo. É não ter medo de existir.”
Sobre o trabalho da Comissão Pró-Equidade de Raça e Gênero da PR/RJ – Criado em 2016, o grupo tem como objetivo promover um ambiente de trabalho mais justo, inclusivo e diverso na PR/RJ. A roda de conversa “Feminismo e novas masculinidades” é a primeira de um novo ciclo anual, no qual as rodas de conversa acontecerão na última quarta-feira de cada mês, à tarde ,no auditório do Memorial da PRRJ. Ao longo deste ano de 2025 serão tratados temas como violência doméstica e violência política de gênero, entre outros.
A Comissão já havia realizado outras três rodas de conversas, nas quais abordou temas como: “Saindo da Bolha por uma Hora – Pessoas Trans e suas Trajetórias”, “Mulheres por Mulheres – A trajetória de mulheres que lutam juntas” e “Concurso público como meio de ascensão social e o mito da meritocracia”.
“A gente precisava realmente retomar a série de conversas e cumprir o papel da comissão, que é de fazer uma espécie de letramento, de provocar discussão sobre temas como diversidade, inclusão e combate às desigualdades“, afirmou o procurador da República Stanley Valeriano, membro da Comissão. A expectativa é que as sessões passem a ser mensais.
“O calendário do ano já está quase todo fechado. Nós teremos várias mulheres negras, líderes indígenas, pessoas de perfis muito diferentes, que queremos trazer não só para que eles conheçam o Ministério Público mas para que a gente também possa conhecer quais são as lutas deles e nos engajarmos nessas lutas, ou talvez nos reconhecermos como parte dessas lutas“, acrescenta.
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Fonte MPF