Criminal
6 de Maio de 2025 às 12h50
MPF pede recebimento da denúncia contra sete acusados por tentativa de golpe de Estado do núcleo de desinformação
Grupo foi responsável por propagar notícias falsas sobre o processo eleitoral e pressionar comandantes das Forças Armadas a aderirem ao golpe
Foto: Rosinei Coutinho/STF
O Ministério Público Federal (MPF) defendeu, na manhã desta terça-feira (6), em sessão na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), o recebimento da denúncia contra sete integrantes do núcleo de desinformação da organização criminosa que liderou os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Eles são acusados de propagar notícias falsas sobre o processo eleitoral e pressionar comandantes das Forças Armadas para aderirem ao projeto de golpe de Estado. Composta por 34 pessoas no total, a organização criminosa agiu entre julho de 2021 a janeiro de 2023, e tinha como principal objetivo impedir a posse do novo presidente, eleito democraticamente em 2022, a fim de se perpetuar no poder.
De acordo com a denúncia, o núcleo – formado por cinco militares, um policial militar e o então presidente do Instituto Voto Legal – foi responsável pelas operações estratégicas de desinformação. “Eles propagaram notícias falsas sobre o processo eleitoral e realizaram ataques virtuais a instituições e autoridades que ameaçavam os interesses do grupo”, relata a acusação. O MPF reitera ainda que “todos estavam cientes do plano maior da organização e da eficácia de suas ações para a promoção de instabilidade social e consumação da ruptura institucional”.
Para a execução dos objetivos, o grupo teria usado, de forma indevida, a estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Por meio do acesso a equipamentos, sistemas e ferramentas da agência, o grupo teria rastreado e acessado informações de opositores. Todos foram denunciados pela prática de cinco crimes: golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Ao representar o MPF na sessão de julgamento, a subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio Marques reiterou que a denúncia, composta por quase 300 páginas, está apta a ser recebida pela Suprema Corte. Para ela, o documento descreve minuciosamente os fatos e pormenoriza as condutas de cada agente para a consecução do objetivo do grupo. “Há um substancioso conjunto de provas, obtidas durante a investigação. Não se trata de uma denúncia calcada exclusivamente nas palavras do colaborador. A prova técnica, os documentos apreendidos, os depoimentos de diversas pessoas formam um conjunto de elementos que subsidiam a acusação”, frisou.
O recebimento da denúncia será julgado pela Primeira Turma do STF, composta pelos ministros Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Flávio Dino e Cármem Lúcia. Em duas sessões de julgamento, em março e abril, 14 investigados já se tornaram réus e respondem a ações penais.
Conjunto de atividades – Durante a sessão, a subprocuradora-geral Cláudia Marques elencou um conjunto de atividades desempenhadas pelo núcleo de desinformação. Além de utilizarem indevidamente recursos da Abin, o grupo teria organizado e divulgado informações inverídicas nas redes sociais sobre fraudes no processo eleitoral. “A ideia principal era manter a mobilização dos apoiadores”, apontou.
Além disso, o grupo teria elaborado relatório com informações falsas para fundamentar uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o objetivo de obter a anulação dos votos em urnas fabricadas antes de 2020. “Essa ação foi baseada em relatório feito sabidamente com dados falsos, com o objetivo de conduzir a opinião pública e a sociedade à convicção de que as urnas eletrônicas não eram confiáveis e que o resultado das eleições não correspondia à real vontade dos eleitores”, explicou a subprocuradora-geral. Também houve a tentativa de manipulação de relatório de fiscalização feito pelo Ministério da Defesa, que atestou a integridade do processo eletrônico de votação.
Os integrantes do núcleo de desinformação também teriam ameaçado e coagido, por meios virtuais, os então comandantes do Exército e da Aeronáutica, que não aderiram ao projeto de golpe. “O apoio dessas Forças era fundamental para o sucesso do projeto de golpe de Estado. O insucesso do golpe se deu, em grande parte, pela não adesão dessas Forças”, pontuou Cláudia Marques.
Organização criminosa – A subprocuradora-geral da República ressaltou que o grupo apresenta todos os elementos exigidos para a existência de uma organização criminosa. “Houve uma estrutura de poder, com hierarquia, divisão de tarefas, comando e diversas atividades desmembradas em todos os integrantes do grupo”, explicou. Cláudia Marques acrescentou ainda que “todos agiram em comunhão de esforços com os demais núcleos para a consecução do objetivo comum, que era o de, mediante violência e grave ameaça, manter-se no poder”.
Para o MPF, ao compartilharem os mesmos objetivos, todos se tornam responsáveis pelas condutas. “Não há como se atribuir um crime isolado a um ou a outro. Todos agiram e concorreram para que houvesse um golpe de Estado. Cada um teve sua parcela de ação para o alcance desse objetivo em comum. A existência dessa trama golpista é indiscutível”, frisou a subprocuradora-geral durante a sustentação oral.
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Fonte MPF