Indígenas e Comunidades Tradicionais
26 de Maio de 2025 às 16h50
MPF encerra evento sobre mudanças climáticas com escuta a povos tradicionais, no Pará
Membros de todo o país visitaram o PAE Santo Afonso, em Abaetetuba, para conhecer de perto os desafios vividos pelos povos da Amazônia
Imagem: Comunicação MPF
Após dois dias de discussões aprofundadas sobre as estratégias que devem ser traçadas pelo Ministério Público Federal (MPF) para impedir a violação de direitos humanos e territoriais de povos indígenas e comunidades tradicionais diante das mudanças climáticas, procuradoras e procuradores da República de todas as regiões do Brasil visitaram o Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Santo Afonso, em Abaetetuba (PA). Com a viagem, o MPF objetivou dialogar com moradores do PAE e de outras comunidades tradicionais da região para conhecer de perto os desafios enfrentados pela população local. A atividade itinerante marcou o encerramento do Encontro Nacional da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF (6CCR/MPF).
Depois de realizarem uma recepção calorosa, emocionante e acolhedora, com cânticos sobre a preservação da Amazônia, resistência e valorização dos recursos naturais que sustentam a subsistência do modo de vida tradicional, como a água, o peixe, o camarão e o açaí, lideranças de mais de cinco comunidades relataram diversos tipos de violência vividos diariamente pelos povos da região, causados, principalmente, pela instalação de grandes empreendimentos, como complexos portuários e industriais. “Uma das primeiras violências que nós sofremos é dizerem que nós não existimos, nos invisibilizam. Isso dói, isso verdadeiramente nos machuca e nos mata”, declarou a liderança da comunidade Nossa Senhora de Nazaré, Osmana Caripetuba.
Outras violações apontadas pelas comunidades foram a invasão de territórios, a aquisição coletiva de doenças por contaminação da água e de plantações, o acúmulo de lixo jogados nos rios, importunações com o objetivo de impedir a pesca e outras atividades ligadas ao sustento das comunidades e o assédio de empresas com interesse em intermediar a comercialização de créditos de carbono. “Nós não precisamos de créditos de carbono, nós sempre preservamos a natureza”, frisou a liderança da comunidade quilombola do Bom Remédio, Rosicleia Silva Ferreira.
As lideranças também denunciaram que, apesar de a maioria das comunidades já possuir protocolo de consulta, decisões do Poder Público e implementações de empreendimentos que impactam diretamente na existência e no modo de vida dessas populações continuam sendo efetivadas sem Consulta Livre, Prévia e Informada, como determina a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que tem força de lei no Brasil desde 2004.
Mudança de paradigma – A coordenadora da 6CCR, subprocuradora-geral da República Eliana Torelly, afirmou que o encontro com as comunidades foi uma grande fonte de sensibilização e inspiração para fortalecer a atuação do MPF. “Essa é uma oportunidade que mexeu com a gente. Vamos sair daqui diferentes”, disse Torelly.
O procurador-chefe do MPF no Pará, Felipe Palha, destacou que ir aos territórios e conhecer a realidade desses povos é essencial para que o MPF consiga atender aos anseios das comunidades e combater as mudanças climáticas. “A importância de ter trazido diversos membros do MPF aqui de todo Brasil e com atuação em todas as instâncias do Poder Judiciário é que todos perceberam que o que precisa ser discutido é a mudança de modelo econômico imposto para a Amazônia, porque o atual modelo continua sendo colonial e exploratório, modelo este que viola direitos das comunidades há mais de 525 anos. São exatamente os grandes empreendimentos implantados de maneira sempre violenta na Amazônia e o agronegócio os maiores causadores das mudanças climáticas e de graves violações de direitos humanos de povos e comunidades tradicionais”, explicou.
“Para nós, é muito enriquecedor perceber que nós precisamos aprender com os territórios para fazer melhor o nosso trabalho, seja no judiciário, extrajudicialmente ou nos fóruns de debate sobre a COP30”, concluiu Palha.
Transporte fluvial, o MPF e as comunidades – Para chegar ao PAE Santo Afonso, que comporta aproximadamente 370 famílias, o MPF utilizou embarcações adquiridas pela própria instituição para se conectar e aproximar de comunidades tradicionais que vivem em lugares de difícil acesso na Amazônia.
Essas embarcações, que funcionam como escritórios de representação fluvial, têm auxiliado o MPF desde maio de 2023, quando o escritório de representação fluvial da unidade de Belém, capital paraense, foi inaugurado. No Pará, o MPF possui embarcações em todos os municípios onde a instituição tem sede própria: Belém, Altamira, Marabá e Santarém.
Os equipamentos permitem que o MPF ofereça atendimento ainda mais rápido às comunidades porque a equipe não precisa mais depender dos horários e de demais restrições impostas por empresas privadas de transporte. Viagens mais rápidas também proporcionam mais segurança à equipe do MPF.
João Batista, liderança da comunidade Igarapé Areia, comemorou a ida do MPF ao PAE Santo Afonso. “Nós estamos há mais de dez anos nessa luta contra essas empresas e a vinda de vocês aqui nos traz esperança. Enquanto estivermos vivos, vamos continuar lutando para que a Amazônia continue em pé”, disse.
Sobre o encontro – O Encontro Nacional da 6CCR, realizado entre 21 e 23 de maio, em Belém (PA), reuniu procuradores, lideranças comunitárias, acadêmicos e representantes de órgãos públicos para discutir os desafios enfrentados por povos indígenas e comunidades tradicionais diante da crise climática e das violações de direitos territoriais. O evento abordou a necessidade de políticas públicas que garantam a regularização fundiária, a consulta prévia, livre e informada e a proteção dos modos de vida tradicionais, destacando o papel central dessas comunidades na preservação ambiental e para o combate às mudanças climáticas.
As discussões destacaram problemas como a sobreposição de territórios tradicionais, os impactos do mercado de créditos de carbono e a exclusão de comunidades em projetos de transição energética. O encontro reforçou a importância de ações integradas para combater a omissão estatal e promover justiça climática e territorial, consolidando o compromisso do MPF com a defesa dos direitos dessas populações.
Ministério Público Federal no Pará
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Fonte MPF