MPF e outros órgãos atuam em defesa de comunidade atingida pela transposição do Rio São Francisco na PB — Procuradoria da República na Paraíba

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Meio Ambiente

17 de Outubro de 2025 às 10h30

COP30: MPF e outros órgãos atuam em defesa de comunidade atingida pela transposição do Rio São Francisco na PB

Depois de anos, famílias afetadas por escassez hídrica e removidas compulsoriamente foram beneficiadas e hoje têm autonomia produtiva

COP30: MPF e outros órgãos atuam em defesa de comunidade atingida pela transposição do Rio São Francisco na PB

Foto: MPF

Um modelo de enfrentamento à escassez hídrica e busca por direitos de população vulnerável, com ênfase na promoção da sustentabilidade, é resultado de longa atuação do Ministério Público Federal (MPF), em conjunto com outras instituições na Paraíba, a exemplo do Ministério Público da Paraíba (MPPB). A atuação, que vem sendo desenvolvida há oito anos, visa dar dignidade a mais de 60 famílias reassentadas em razão das obras do eixo leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf).

Justamente no ano da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), a tão sonhada autonomia produtiva chegou na Vila Produtiva Rural (VPR) Lafayette, localizada em Monteiro. O município fica situado no seminário da Paraíba, região do Cariri, no bioma Caatinga, suscetível à desertificação.

A Vila Lafayette foi estabelecida em 1º de dezembro de 2015, como parte do reassentamento de 61 famílias

foto de muro onde está escrito Vila Produtiva Rural Laffayete
Vila Produtiva Rural Laffayete

impactadas pela construção do canal do eixo leste da transposição do São Francisco. Cada família recebeu cinco hectares, com o compromisso de um hectare irrigado. Ao longo de anos, a comunidade enfrentou desafios significativos, especialmente a escassez de água para consumo humano, animal e para irrigação, comprometendo as condições de vida e a viabilidade agrícola. Dezenas de famílias antes ribeirinhas do Rio Paraíba, que viviam da agricultura e não tinham a intenção de deixar seus territórios, foram removidas para a nova área, compulsoriamente, perdendo sua autonomia produtiva e passando a depender de benefícios assistenciais.

Diante desse cenário, a atuação do MPF, do MPPB e de outros órgãos buscou garantir a efetividade do Pisf, com execução das obras e medidas necessárias ao pleno funcionamento da Vila Lafayette. O objetivo, desde o início, foi assegurar o cumprimento das obrigações assumidas pelos responsáveis pelo projeto, especialmente as condicionantes ambientais e sociais, promovendo a dignidade dos reassentados e a sustentabilidade da comunidade.

COMPROMISSOS INTERNACIONAIS

A procuradora regional dos Direitos do Cidadão, Janaina Andrade, explica que as medidas estão alinhadas às diretrizes do Quadro Estratégico para o período de 2018-2030 da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), que busca alcançar os objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica e da Agenda 30 para o Desenvolvimento Sustentável.

A atuação do MPF buscou dar efetividade às diretrizes internacionais de combate à desertificação, bem como aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 30, especialmente o ODS nº 6, o ODS nº 15 e a meta 15.3: “até 2030, combater a desertificação, restaurar terras e solos degradados, incluindo terras afetadas pela desertificação, secas e inundações, e lutar para alcançar um mundo neutro em termos de degradação da terra”. A procuradora aponta ainda os debates da 16ª sessão da Conferência das Partes (COP16) da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, realizada em Riade, na Arábia Saudita, em 2024.

“Uma vila produtiva sem água para produção não seria um mero erro semântico, seria prolongar um processo traumático de remoção forçada de dezenas de famílias”.  Janaina Andrade, procuradora regional dos Direitos do Cidadão

Janaina Andrade não questiona a importância do Pisf, mas entende que “o dano à bacia doadora, no aspecto do meio ambiente natural e social, e o elevado dispêndio de recursos públicos exigiu que o MPF atuasse de forma a buscar dos atores responsáveis adoção de ações para a efetividade do projeto, no presente recorte, a garantia de dignidade aos reassentados”. 

RESULTADOS E RECONHECIMENTO

Depois de oito anos de atuação extrajudicial do MPF, reuniões com diversos órgãos e moradores da vila, acordos e recomendações, as famílias reassentadas receberam o sistema de irrigação, no início de 2025. O desafio da garantia de energia elétrica acessível para fortalecer o cultivo ainda segue a ser superado.

A atuação extrajudicial do MPF foi essencial em promover diálogo interinstitucional com a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e a Secretaria da Infraestrutura e dos Recursos Hídricos da Paraíba (SEIRH), possibilitando que a Vila Lafayette tenha atualmente disponibilidade de água para consumo humano, para dessedentação de animais e para produção, sendo a primeira VLP do Projeto de Integração do Rio São Francisco com autonomia produtiva. 

 O reassentado Agnaldo Freitas destaca que a transposição do São Francisco e a Vila Lafayette, depois de anos, tornaram-se um sonho realizado. O agricultor reforça que ele e muitas pessoas atingidas não acreditavam que o resultado seria satisfatório e ressalta a atuação do Ministério Público.

“A gente sempre esteve no Ministério Público Federal, buscando informações e pedindo ajuda. Eu, como agricultor, nasci e me criei aqui no sítio. Hoje, estamos aqui em comunidade, isso nos trouxe muita experiência. Sabemos da riqueza e da grandeza do nosso território, do nosso bioma Caatinga, do que ele pode desenvolver.”

foto“Um agricultor, paraibano, do Cariri, da seca, hoje ele tem a oportunidade de um dia chegar até a exportar o seu produto e isso é muito gratificante, isso é muito bom. A gente tem que sonhar e acreditar para as coisas acontecerem”, acrescentou Agnaldo, se referindo ao desejo de tornar a Vila Lafayette uma grande exportadora de frutas, assim como acontece em perímetros irrigados de Petrolina (PE), também no semiárido nordestino.

Já a reassentada Edleusa Lemos destaca que os lotes irrigados chegaram para transformar a vida de muita gente. “Quando veio o canal, o mundo desabou, porque a gente pensava que ia morrer de fome, porque começar do zero não é fácil para ninguém. Quando a gente veio para cá, aí a coisa só foi melhorando. Aquela visão que a gente tinha de ser o maior prejuízo só foi melhoria”.

Luciano Santos, presidente da associação da vila, lembra que no início a comunidade não tinha água nem para o abastecimento humano. “Hoje nós temos água para irrigar os lotes. As famílias estão muito animadas e produzindo”, comemorou. Luciano disse ainda que a luta agora é para ver se consegue implantar energia solar na vila, a fim de que os custos com energia elétrica sejam menores.

Maria Gorete, que também foi removida compulsoriamente em razão das obras do Pisf, lembrou que, antigamente, só com chuva era possível obter uma boa colheita. “A gente dependia da chuva, mas hoje é uma maravilha, isso é muito gratificante. A gente saber, numa época que nós estamos, na seca, que teve uma boa colheita, é muito prazeroso. A transposição mudou a vida de muita gente”, declarou.

Contagem regressiva – Até o dia 9 de novembro, véspera do início da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém, no Pará, serão publicadas 50 matérias sobre a atuação do Ministério Público Federal na proteção do meio ambiente, das populações mais vulneráveis e dos direitos humanos. A ação de comunicação faz parte da campanha MPF: Guardião do Futuro, Protetor de Direitos.

Acompanhe a contagem regressiva diariamente, no nosso site!

Acesse o site MPF na COP30

*Reportagem: Comunicação/MPF/PB

Fonte MPF