MPF denuncia grupo que ganhou R$ 145 milhões com fraudes em leilões de energia da Aneel — Procuradoria da República em São Paulo

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Criminal

30 de Abril de 2025 às 12h10

MPF denuncia grupo que ganhou R$ 145 milhões com fraudes em leilões de energia da Aneel

Esquema operou entre 2015 e 2018; empresa de fachada venceu três licitações com projetos para construção de usinas solares

Foto mostra dezenas de paineis solares instalados em fileiras sobre solo de terra batida, em dia claro, com céu azul


Foto ilustrativa: Canva

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou dez integrantes de uma organização criminosa que obteve R$ 145,2 milhões ilicitamente a partir de fraudes em leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) entre 2015 e 2018. O esquema foi descoberto na Operação Skotos – um desdobramento da Operação Black Flag, deflagrada em 2021 para apurar uma série de crimes praticados pelo grupo, com articulações concentradas em Campinas (SP). A denúncia foi recebida pela Justiça Federal e os envolvidos responderão por crimes como fraude a licitação, lavagem de dinheiro, uso de documentos falsos e corrupção ativa e passiva. 

As fraudes se basearam em uma rede empresarial protagonizada por uma construtora fictícia, a Steelcons Empreiteira. Os denunciados habilitavam a empresa de fachada em leilões da Aneel com uso de documentos contábeis falsos que atestavam a suposta capacidade financeira para a construção de usinas de energia solar. Ao vencer as licitações, a organização criminosa obtinha os ganhos ilícitos com a venda das outorgas de energia, conquistadas pela Steelcons, a empresas de boa-fé interessadas em titularizá-las.

As investigações identificaram três leilões que tiveram participação do grupo. O primeiro, em 2015, destinava-se à contratação de energia elétrica de reserva proveniente de novos empreendimentos, no qual os envolvidos apresentaram a proposta vencedora para a construção de três usinas no Tocantins. Os outros dois, em 2017 e 2018, tinham como objeto a aquisição de energia pelo governo federal para ampliação da oferta e atendimento de demanda futura. Nessas licitações, os denunciados tiveram sucesso com a inscrição de projetos que previam a instalação de quatro unidades de produção energética na Bahia e outras nove no Ceará.

As outorgas obtidas foram vendidas a terceiros por R$ 80 milhões, R$ 6,5 milhões e R$ 58,7 milhões, respectivamente. Ao receberem as quantias, os criminosos procederam a uma série de transações para a divisão dos ganhos, maquiadas por meio de contratos falsos de prestação de serviços. O dinheiro beneficiou não só os articuladores das fraudes, mas também os integrantes do esquema que produziram documentos falsos, intermediaram os negócios, prestaram assessoria ou viabilizaram a lavagem dos recursos ilícitos.

Pedidos de condenação – Além da aplicação das penas previstas a cada um dos crimes cometidos, o MPF pede que a Justiça Federal determine a perda de bens dos denunciados em valor equivalente aos ganhos que obtiveram com as fraudes (R$ 145,2 milhões). Na denúncia, de autoria do procurador da República Ricardo Perin Nardi, o Ministério Público requer ainda a condenação dos envolvidos ao pagamento de indenização de R$ 50 milhões por danos morais coletivos.

No decorrer da apuração, o MPF firmou acordo de não persecução penal (ANPP) com sete dos envolvidos. Por meio do ANPP, pessoas investigadas por um crime reconhecem a culpa e se comprometem a cumprir determinadas exigências, sem necessidade de proposição de ação penal na Justiça. Os acordos firmados impuseram a prestação de serviços a entidades públicas e o perdimento de bens e valores, no total aproximado de R$ 2 milhões.

O grupo já havia sido alvo de outras fases da Operação Black Flag. Segundo os investigadores, a atuação de parte dos denunciados remonta a pelo menos 2007, quando teve início um esquema fraudulento para a obtenção de financiamentos e empréstimos. Até 2012, também com uso de empresas de fachada, os criminosos conseguiram a liberação de recursos que geraram prejuízos próximos a R$ 100 milhões a instituições financeiras públicas e privadas. Além disso, as autoridades identificaram danos aos cofres públicos com a sonegação de R$ 42,8 milhões em tributos entre 2011 e 2012.

Ação Penal nº 5012979-67.2021.4.03.6105

Consulta processual

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Fonte MPF