MPF defende proteção de pessoas defensoras de direitos humanos em evento da ONU — PFDC

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Direitos do Cidadão

10 de Abril de 2025 às 18h18

MPF defende proteção de pessoas defensoras de direitos humanos em evento da ONU

Procurador federal dos Direitos do Cidadão ressaltou papel do Estado em proteger direitos

foto mostra participantes do evento em um palco


Imagem: Print reprodução YouTube

O Brasil é o segundo país com mais casos de mortes de pessoas defensoras de direitos humanos. No mundo inteiro, entre 2012 e 2023, foram registrados mais de 2 mil assassinatos – isso equivale a mais de uma pessoa assassinada a cada dois dias, ao longo de uma década. Povos e comunidades tradicionais, como indígenas e quilombolas – que desempenham papel essencial na defesa do meio ambiente e dos direitos coletivos – são historicamente os mais afetados pelos casos de perseguição, ameaças e sequestros, além de mortes.

Os dados, divulgados pela ONG Global Witness, são reforçados e debatidos durante o IX Fórum Regional sobre Empresas e Direitos Humanos da América Latina e Caribe. Promovido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), o evento acontece até sexta-feira (11), em São Paulo. Além da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, órgão do Ministério Público Federal (MPF), participam do evento representantes da sociedade civil e do setor empresarial, além do Poder Público.

Ao participar do painel “Empresas, Direitos Humanos e a Proteção de Pessoas defensoras: desafios e responsabilidades no Brasil”, nessa quarta-feira (9), o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Nicolao Dino, enfatizou que uma estrutura tripartida resume os fatores que culminaram no cenário violento: a herança patrimonialista, o processo de grilagem e a atuação do crime organizado. “Esses elementos estão intrinsecamente ligados. Não há como dissociá-los”, pontuou o subprocurador-geral da República.

Dino destacou ainda que o momento de maior intensidade desses processos ocorreu durante a ditadura militar: “Naquele período, houve inúmeras destinações de territórios ocupados por povos e comunidades tradicionais nas regiões Norte e Nordeste a empresas”. Como exemplo, o subprocurador-geral da República citou a expulsão do povo Waimiri Atroari de suas terras, para a construção da usina hidrelétrica de Balbina. “Esse e outros tantos exemplos revelam a profundidade do problema que enfrentamos hoje”, acrescentou. Nesse sentido, Dino ressaltou que a atuação de empresas tem sido uma das principais causas de conflitos territoriais e ambientais no Brasil, resultando em graves violações de direitos humanos.

Papel do Estado – Ao mesmo tempo, o PFDC pontuou que cabe ao Estado impedir que violências das empresas aos direitos humanos se perpetuem, além de dar condições adequadas para que as pessoas possam viver em seus territórios e que possam fazer valer os seus direitos. “O Estado tem um papel regulador e fiscalizador, que são imprescindíveis, principalmente em um país com tantas desigualdades sociais e econômicas. Não é um favor que o Estado faz, é um dever”, frisou. Dino reiterou ainda que a Constituição Federal, as legislações e tratados internacionais são suficientes para se exigir a responsabilidade do Estado na proteção dos direitos. “Não há como prescindir da atuação do Estado nesse processo de promoção e proteção dos direitos das pessoas defensoras de direitos humanos. Isso é papel do Estado”, afirmou Dino.

Casos no Brasil De acordo com o estudo “Na linha de frente: violência contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil”, realizado pelas organizações Justiça Global e Terra de Direitos, entre 2019 e 2022, foram documentados 1.171 casos de violência – incluindo 169 assassinatos e 579 ameaças. Os dados revelam a escalada de conflitos territoriais e ambientais no país, com casos registrados em todos os estados.

A pesquisa destaca ainda que os defensores indígenas foram alvos de uma parcela significativa da violência sofrida pelas pessoas defensoras de direitos humanos: 346 casos – incluindo 50 assassinatos e 172 ameaças. Ainda de acordo com o estudo, a maioria das ameaças, assassinatos e ataques contra pessoas defensoras associados a conflitos fundiários e à conservação ambiental estão associadas a operações de empresas inclusive por meio de agentes ou empresas de segurança privada e milícias contratadas.

Fonte MPF