MPF atua por titulação de território quilombola e anulação de doação ilegal de terras da União em Barcarena (PA) — Procuradoria-Geral da República

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Comunidades Tradicionais

24 de Outubro de 2025 às 10h0

COP30: MPF atua por titulação de território quilombola e anulação de doação ilegal de terras da União em Barcarena (PA)

Foi requerida a titulação definitiva para cinco comunidades e a anulação da doação ao município de 7,7 milhões de m² do território

A imagem mostra um grupo de pessoas reunidas em um espaço ao ar livre, com vegetação densa ao redor. No centro, há um quiosque com teto de palha onde um homem está em pé falando com o grupo que está sentado em cadeiras de plástico. Há aproximadamente 20 pessoas na cena, e a imagem tem uma borda verde decorativa com folhas. No canto inferior direito, há um logotipo com a inscrição "MPF COP 30".


Foto: Ascom/MPF/PA

O Ministério Público Federal (MPF) está travando uma batalha judicial e administrativa para assegurar o direito ao território de cinco comunidades quilombolas em Barcarena, no Pará. A atuação visa corrigir uma ilegalidade que ameaça a existência e o modo de vida das comunidades, que aguardam a regularização fundiária pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desde 2016.

Às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será sediada em Belém, a atuação do MPF em defesa do direito das comunidades aos seus territórios também contribui para a preservação das suas tradições e do meio ambiente, ao conter o avanço da urbanização sobre áreas quilombolas inseridas na floresta amazônica.

A iniciativa do MPF surgiu após a identificação de um grave problema: a União doou, para o município de Barcarena, terrenos que totalizam uma área de 7,7 milhões de metros quadrados. A transferência, no entanto, ignorou o fato de que esses terrenos se sobrepõem aos territórios tradicionalmente ocupados pelas comunidades quilombolas de São Lourenço, São João, Cupuaçu, Burajuba e Sítio Conceição.

Com a posse da área, a administração municipal iniciou um Projeto de Regularização Fundiária Urbana (Reurb), destinando lotes e anunciando a entrega de, ao menos, 400 títulos de propriedade para terceiros, em áreas de ocupação tradicional.

“O MPF considera que essa doação foi ilegal, e o principal motivo da ilegalidade dessa doação foi ter ignorado que vocês existiam aqui”, afirmou o procurador da República Rafael Martins da Silva, responsável pelo caso, durante visitas recentes às comunidades.

A moradora do Território Quilombola de Sítio Cupuaçu/Boa Vista Maria Luciene Santos Pinheiro, por exemplo, relatou ao MPF que as famílias perderam áreas de roça e pesca e agora têm que comprar alimentos que antes produziam. “As famílias vêm sofrendo invasões desde 2017, intensificadas durante a pandemia. A terra foi devastada, e os barracos foram destruídos. Estamos perdendo terra ano a ano. Hoje, vivemos confinados em pequenos espaços”, relata. Enquanto isso, as famílias não conseguem acessar projetos de geração de renda por falta do título definitivo da terra. 

O quilombola Roberto Chipp, liderança da comunidade do Território Quilombola Sítio Conceição, ressaltou que as famílias precisam ser reconhecidas e respeitadas em seus direitos, que vêm de sua ancestralidade e pertencimento étnico. No entanto, a legislação segue sendo violada e os quilombolas são alvo de racismo ambiental: falta terra fértil, o ar e a água estão poluídos e as pessoas estão adoecendo por empreendimentos instalados na região sem consulta às famílias. “A falta de título é usada pela prefeitura para negar a existência da comunidade”, destaca.

Para solucionar o conflito, o MPF ajuizou uma ação em fevereiro de 2024. A ação tem como réus a União, o município de Barcarena e o Incra, e conta com a Associação da Comunidade Quilombola de São Sebastião de Burajuba como assistente.

Os principais objetivos da ação são:

• anular o contrato de doação da União para o município, por violar os direitos territoriais das comunidades;

• obrigar o Incra a finalizar os procedimentos de demarcação e titulação dos cinco territórios quilombolas; e

• impedir que o município realize obras ou intervenções nos territórios sem a Consulta Prévia, Livre e Informada (CPLI) às comunidades, conforme determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Resultados obtidos

A atuação do MPF já alcançou resultados importantes. A Justiça Federal concedeu, a pedido do MPF, uma decisão liminar (urgente) que determina ao Incra a realização da demarcação dos territórios, um passo crucial para a segurança jurídica das comunidades. A decisão também foi favorável aos pedidos do MPF para que fosse proibida a retirada de moradores e a ocupação das áreas para novos empreendimentos. Além disso, foi acordado, em audiência judicial, que o município realizará um levantamento dos títulos já emitidos e estimará o custo para reverter a doação, incluindo possíveis indenizações.

Durante visitas, em maio de deste ano, o procurador Rafael Martins ouviu relatos sobre invasões, falta de serviços básicos e os impactos de empreendimentos no entorno, e se comprometeu a cobrar novamente o avanço do Incra.

 Direitos Protegidos

A atuação protege direitos fundamentais dos povos e comunidades tradicionais, como o direito ao território, garantido pela Constituição Federal, e o direito à CPLI. Ao buscar a regularização dos territórios das comunidades quilombolas, o MPF atua para reparar uma injustiça histórica e garantir a sobrevivência física e cultural desses povos.

Para Rafael Martins da Silva, o caso de Barcarena é emblemático e dialoga diretamente com as discussões da COP30.

“A luta pela regularização fundiária em Barcarena é um exemplo claro de como a justiça social e a justiça climática estão interligadas. As comunidades quilombolas são guardiãs históricas desses territórios. Proteger seus modos de vida e garantir sua permanência na terra é uma das estratégias mais eficazes de conservação ambiental e de combate ao desmatamento”, afirmou.

“Enquanto o mundo se prepara para discutir o futuro do planeta na Conferência do Clima, aqui em nossa casa, na Amazônia, esta atuação demonstra, na prática, que não haverá solução para a crise climática sem o respeito aos direitos e ao protagonismo dos povos tradicionais. Garantir seus territórios é uma ação climática concreta”, concluiu o procurador da República.

Contagem regressiva – Até o dia 9 de novembro, véspera do início da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém, no Pará, serão publicadas 50 matérias sobre a atuação do Ministério Público Federal na proteção do meio ambiente, das populações mais vulneráveis e dos direitos humanos. A ação de comunicação faz parte da campanha MPF: Guardião do Futuro, Protetor de Direitos.

Acompanhe a contagem regressiva diariamente, no nosso site!

Acesse o site MPF na COP30

 

*Reportagem: Comunicação/MPF/PA

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Fonte MPF