Comunidades Tradicionais
21 de Agosto de 2025 às 9h50
MPF adota medidas para proteger território do Quilombo Quingoma em Lauro de Freitas (BA)
Uma das medidas foi a notificação ao Esporte Clube Bahia SAF para esclarecer possível construção de centro de treinamento no local
Arte: Comunicação/MPF
O Ministério Público Federal (MPF) enviou uma série de ofícios para impedir a realização de obras no território quilombola de Quingoma, em Lauro de Freitas (BA). As medidas incluem pedidos ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), à prefeitura de Lauro de Freitas e à Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), para que não autorizem ou executem empreendimentos na área. O local é objeto de disputa judicial e é reconhecido como tradicional pela comunidade quilombola.
Outro questão abordada em um dos ofícios, foi a possibilidade de o Esporte Clube Bahia Sociedade Anônima do Futebol (SAF) planejar a construção de um centro de treinamento no local. Após sucessivas cobranças do MPF, o clube confirmou, em resposta aos ofícios, que “não há quaisquer tratativas em andamento visando à aquisição de áreas inseridas na poligonal do território de Quingoma para construção de empreendimento”.
De acordo com o procurador da República Ramiro Rockenbach, a atuação busca garantir segurança jurídica e prevenir danos irreversíveis. “Estamos falando de uma comunidade tradicional com direitos reconhecidos e de uma área ambientalmente sensível. O MPF não permitirá que empreendimentos avancem sem a devida consulta e sem respeito às normas constitucionais”, afirmou. Segundo ele, o esclarecimento da Bahia SAF ajuda a reduzir tensões, no entanto, o MPF segue vigilante para assegurar que o Quilombo de Quingoma não seja violado.
Ainda de acordo com o procurador, as associações quilombolas locais — Associação Quilombo Quingoma, Associação de Moradores e Pequenos Produtores Rurais do Quingoma e Associação Agrícola Novo Horizonte — manifestaram disposição para dialogar com a Bahia SAF, caso haja interesse do clube.
Medidas adotadas pelo MPF – Nos últimos dias, o MPF encaminhou mais três ofícios:
Ao Incra: para solicitar o reconhecimento parcial imediato do território, especialmente na área pretendida pelo empreendimento imobiliário “JoanesParque/Bairro Planejado”, da MAC Empreendimentos. O objetivo é evitar a “capitalização” de futuras indenizações por benfeitorias e preservar a Área de Proteção Ambiental (APA) Joanes-Ipitanga.
À prefeitura de Lauro de Freitas e à Secretaria Municipal de Saúde: para que não instalem unidade básica de saúde no local em disputa. O MPF destacou que não há impedimento para construção em outro ponto do território, desde que seja observada a consulta livre, prévia e informada à comunidade.
À Embasa: para que não execute obras de água e saneamento relacionadas ao mesmo empreendimento “JoanesParque/Bairro Planejado”, em razão da ação civil pública que tramita na Justiça Federal (nº 1019688-17.2024.4.01.3300).
Por fim, Rockenbach lembra que a defesa da comunidade se conecta também à pauta ambiental e climática global. “Não se trata apenas de uma disputa fundiária, mas de uma questão que envolve direitos humanos, justiça climática e preservação de patrimônio coletivo” afirmou, destacando que o Brasil, como sede da COP30, deve demonstrar responsabilidade e coerência em proteger povos e comunidades tradicionais.
Íntegra do ofício ao Incra
Íntegra do ofício à prefeitura
Íntegra do ofício à Embasa
Íntegra do ofício à Bahia SAF
Fonte MPF