MPF aciona Justiça para suspender atividades agropecuárias ilegais em área do Quilombo Kalunga, em Goiás — Procuradoria da República em Goiás

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Comunidades Tradicionais

4 de Junho de 2025 às 16h25

MPF aciona Justiça para suspender atividades agropecuárias ilegais em área do Quilombo Kalunga, em Goiás

Ação pede proteção urgente ao território tradicional diante do desmatamento e de violações ambientais sem consulta à comunidade

vista da comunidade quilombola Kalunga mostra árvores e uma casa em uma área rural


Vista da Comunidade quilombola Kalunga do Engenho II/ Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

O Ministério Público Federal (MPF) ingressou com ação cautelar de urgência na Justiça Federal de Goiás para suspender a autorização concedida pelo estado de Goiás para atividades agropecuárias em área pertencente ao território quilombola Kalunga, o maior do país. A medida foi tomada diante de violações ao direito à consulta prévia da comunidade Kalunga e dos riscos iminentes de danos ambientais.

A ação aponta que a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) autorizou a utilização de 530 hectares da Fazenda Alagoas, localizada na região de Cavalcante (GO), sem ouvir a comunidade Kalunga. O local havia sido alvo de desmatamento ilegal, entre 2019 e 2020, pelas empresas Apoena Agropecuária e Comércio e Trillium Empreendimentos, que pretendem realizar agricultura de sequeiro (técnica agrícola para o cultivo de plantas em regiões com pouca chuva), agricultura irrigada, integração de lavoura/pecuária extensiva e semiextensiva/floresta na área.

O MPF destaca que essas atividades foram liberadas mesmo após autuações ambientais anteriores e compromissos assumidos em Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). De acordo com a ação, os acordos foram utilizados indevidamente como justificativa para novas intervenções, o que caracteriza um risco à regeneração da vegetação e às nascentes da região, como o Rio Prata, fundamental para o abastecimento das comunidades locais.

Além da violação das normas ambientais, o MPF ressalta a afronta à Convenção 169 da OIT, que garante aos povos e comunidades tradicionais o direito à consulta prévia, livre e informada sobre qualquer medida que possa afetar seus territórios. Também são citadas normas estaduais que protegem o Sítio Histórico Kalunga e restringem atividades econômicas em seu interior sem o aval da população tradicional.

A ação foi proposta pelo procurador da República José Ricardo Teixeira Alves, da unidade do MPF em Luziânia, e requer, além da suspensão imediata das licenças, a condenação das empresas e do estado de Goiás por danos morais coletivos e a obrigação de reparação ambiental das áreas afetadas. As empresas também devem ficar impedidas de realizar atividades agropecuárias nas áreas da Fazenda Alagoas. Em caso de descumprimento, o MPF pede a aplicação de multa diária no valor de R$ 50 mil.

Kalunga – O território Kalunga abrange mais de 200 mil hectares no norte goiano e é habitado por descendentes de comunidades formadas por pessoas negras escravizadas que fugiram de fazendas nos séculos passados. Reconhecido como patrimônio cultural, o território enfrenta crescentes pressões por parte de empreendimentos econômicos que ameaçam o modo de vida tradicional e a sustentabilidade ambiental da região.

 

Fonte MPF