Comunidades Tradicionais
10 de Dezembro de 2024 às 16h20
Preservação da ancestralidade: membros e servidores do MPF visitam quilombo nas imediações de Brasília
Visita ao Quilombo Mesquita, em Goiás, fez parte da agenda do Encontro Nacional da Câmara de Comunidades Tradicionais do órgão
Foto: João Américo/ Comunicação MPF
“Não entender e não respeitar nossa autodeclaração como quilombolas é uma violência”. A frase da engenheira agrônoma Danuza Lisboa foi um desabafo feito durante a visita de procuradores que atuam nas temáticas da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal (6CCR/MPF) ao Quilombo Mesquita, na última sexta-feira (6). Localizado a 50 quilômetros da capital federal, na Cidade Ocidental (GO), o território é lar de 785 famílias que lutam há quase 300 anos pelo reconhecimento e a preservação da sua tradicionalidade.
Fechando a agenda do Encontro Nacional da 6CCR, que aconteceu em Brasília entre 4 e 6 de dezembro, a ida ao Quilombo Mesquita contou com a participação de cerca de 30 pessoas, entre membros e servidores do MPF. No território quilombola pela segunda vez, a coordenadora da Câmara, subprocuradora-geral da República Eliana Torelly, refletiu sobre os impactos da omissão estatal no cumprimento dos direitos constitucionais garantidos aos povos tradicionais e destacou a importância de o MPF conhecer de perto a realidade dessas populações.
“Esse contato faz com que a gente se sinta mais motivado a mudar algumas realidades que são tão opressivas pra essas populações”, afirmou. Exaltando a cultura singular dos quilombolas de Mesquita, ela fez votos de esperança para a comunidade, que aguarda o fim do processo de titulação de terras. “Existe um passivo recente que o Poder Público precisa colocar em dia. A gente deseja que essas políticas sejam aceleradas para que essas populações saiam da invisibilidade e tenham seus direitos reconhecidos”, pontuou.
História – Vivendo da agricultura familiar, principalmente da produção de derivados do marmelo, a comunidade enfrenta uma série de dificuldades no dia a dia. Luta contra a especulação imobiliária, ameaças por parte de fazendeiros locais, sucateamento dos serviços públicos como posto de saúde e escola, discriminação e racismo institucional se somam ao desejo de manter viva a história e o modo de vida de seus ancestrais.
Atualmente, o Quilombo Mesquita conta com cerca de 3 mil habitantes que, com o passar do tempo, viram seu território ser subtraído em parcelas. Há 60 anos, testemunharam parte das terras se tornarem a capital do país. Hoje, aguardam a finalização do processo de regularização fundiária dos 4,2 mil hectares delimitados pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra). “Contribuímos para a construção desse país, nos roubaram nossas riquezas e hoje a gente luta pelo mínimo”, lamentou a professora Dalila Lisboa.
A busca e a luta incansável, segundo ela, são motivadas pelo respeito ao modo de vida ligado à terra. A esperança na criação de um futuro que incentive as gerações mais jovens a se reconhecerem como quilombolas e darem continuidade à história iniciada por três mulheres negras, escravizadas libertas, há 278 anos, é mais um incentivo.
Fim da espera – Apesar dos percalços, a luta pelo reconhecimento territorial dos quilombolas de Mesquita pode estar perto do fim. É o que aponta o procurador da República que atua nos processos envolvendo o território, José Ricardo Teixeira. Desde 2008 em tramitação na Justiça Federal, a ação civil pública movida pelo MPF para a titulação definitiva do território deve ser julgada a qualquer momento, segundo ele.
“Conseguimos adiantar a instrução, a produção de perícia e está tudo praticamente pronto pra a sentença da Justiça reconhecendo o quilombo e determinando ao Incra que conclua o processo, e entregue totalmente o território à comunidade Mesquita”, esclareceu.
A notícia é um alívio para quem aguarda há tantos anos pela confirmação de seus direitos territoriais, respaldados pela Constituição Federal e por organismos internacionais, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Tenho muito orgulho de dizer que eu sou filha dessa terra, que eu vivo dessa terra e vou morrer nessa terra”, declarou Danuza Lisboa.
Confira as fotos da visita na página do MPF no Flickr.
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Fonte MPF