Consumidor e Ordem Econômica
27 de Novembro de 2025 às 9h55
Audiência pública debate impactos do novo marco regulatório no transporte rodoviário interestadual de passageiro
Evento do MPF reuniu representantes dos setores público e privado, especialistas e sociedade civil

Fotos: Leobark Rodrigues/Secom/MPF
A Câmara de Consumidor e Ordem Econômica do Ministério Público Federal (3CCR/MPF) promoveu, nessa quarta-feira (26), audiência pública para discutir o Transporte Rodoviário Interestadual de Passageiros (TRIP), com foco na regulação e na concorrência do setor, especialmente diante do novo marco regulatório instituído pela Resolução nº 6.033/2023 da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A norma estabelece regras para o serviço e prevê a transição dos termos de autorização e licenças operacionais anteriores para novos modelos.
Na abertura do evento, o subprocurador-geral da República e coordenador da 3CCR, Luiz Augusto Lima, destacou a finalidade da audiência pública. “A iniciativa busca reunir contribuições críticas e propostas sobre o papel institucional do MPF no transporte rodoviário de passageiros, a fim de subsidiar o trabalho de coordenação da 3CCR e promover uma atuação resolutiva, com maior efetividade, celeridade e benefício social na solução de conflitos e na regulação do setor”, esclareceu.
Os debates foram estruturados em três eixos temáticos:
• regulação e implementação do novo marco regulamentar, incluindo desafios práticos, segurança dos sistemas e habilitação de operadores;
• concorrência e estrutura de mercado, com análise dos impactos sobre a competição, concentração por rotas e acesso de novos operadores; e
• direitos do usuário e defesa do consumidor, abordando a representação dos usuários junto à ANTT e o fortalecimento de seus direitos nas políticas regulatórias.
Ao mediar a discussão, a coordenadora do Comitê Rodovias da 3CCR, a procuradora da República Anna Carolina Resende Maia Garcia, ressaltou a importância do diálogo institucional e da busca por soluções construídas de forma conjunta entre o MPF, a ANTT, os operadores e a sociedade.
Ela reconheceu que, apesar das divergências, a relação com a ANTT tem sido marcada por diálogo constante e esforço mútuo para avançar na discussão regulatória. “A audiência pública representa uma oportunidade de aproximação com a sociedade e de fortalecimento do papel do MPF na defesa dos usuários, destacando que problemas complexos exigem mais do que respostas exclusivamente jurídicas”, frisou.
Manifestações – Durante as manifestações, foram apresentadas críticas ao atual cenário do setor. Apontaram-se preocupações com a concentração de mercado, alegações de dificuldades na atuação da ANTT e impactos sobre preços, qualidade do serviço e atendimento a municípios desassistidos. O deputado federal Maurício Marcon (Podemos-RS) defendeu maior transparência e efetividade na regulação e ressaltou a importância da concorrência como instrumento para ampliar o acesso, reduzir custos e melhorar a prestação do serviço ao usuário.
Pesquisas acadêmicas apresentadas durante a audiência indicaram que o aumento da concorrência no setor pode resultar em redução significativa dos preços médios das passagens, com benefícios diretos à população, especialmente aos usuários que dependem do transporte rodoviário como principal meio de deslocamento.
Representantes empresariais e de organizações do setor também se pronunciaram. A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia destacou que o transporte rodoviário regular enfrenta histórico de concentração e que a Resolução nº 6.033/2023 teria criado barreiras à entrada e fechado o mercado, apontando ainda questionamentos quanto à adoção de leilões e à falta de clareza sobre os sistemas utilizados pela ANTT. A entidade informou que judicializou a discussão e defendeu maior abertura e transparência regulatória, em benefício dos usuários.
A empresa FlixBus Brasil afirmou que atua no país desde 2021 e que, ao longo do processo de discussão que levou à edição da norma, alertou para riscos de fechamento de mercado, aumento da insegurança jurídica e complexidade regulatória. Segundo o representante, a concorrência contribui para viagens mais acessíveis, melhoria da qualidade e redução de preços, defendendo que a regulação seja baseada em dados e que promova condições mais equitativas de acesso ao mercado.
Também foram apontados outros problemas na norma: ilegalidades, falhas técnicas, problemas de governança e desrespeito à livre concorrência. A professora doutora em Direito Econômico Amanda Flávio de Oliveira defendeu a revogação da resolução por fechar o mercado, criar critérios arbitrários e favorece monopólios, em desacordo com decisões do Tribunal de Contas da União (TCU), posicionamentos do Ministério da Fazenda e entendimentos do Supremo Tribunal Federal (STF).
Para a Associação Brasileira dos Fretadores Colaborativos, há falhas na implementação do marco regulatório, ausência de transparência na definição de mercados desatendidos e manutenção de estruturas concentradas.
O representante do Ministério de Portos e Aeroportos apontou ilegalidades jurídicas, distorções econômicas e erros matemáticos nas fórmulas da ANTT, que, segundo ele, inviabilizariam o modelo em mais de 99% dos mercados.
Segundo a Associação Brasileira de Usuários de Rodovias sob Concessão (Usuvias), a resolução impõe exigências incompatíveis com o regime de autorização previsto em lei, pois cria barreiras à entrada de novas empresas e mantém o mercado concentrado. Com isso, a população que depende exclusivamente do transporte rodoviário é impactada negativamente.
A Associação Nacional dos Transportes Diversos (AnTD) reforçou que a ANTT teria invertido a lógica legal ao utilizar o conceito de “inviabilidade econômica” para negar pedidos de novas operadoras, protegendo empresas já consolidadas.
Para a Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor, entidade que reúne promotoras e promotores de Justiça que atuam nas Promotoria do Consumidor dos Ministérios Públicos nos estados, o compromisso do MP estadual é o de fazer uma atuação conjunta com o MPF na defesa dos usuários. Para a associação, existe uma fragilização das agências reguladoras e o cenário é preocupante, uma vez que é necessário regular e fiscalizar, caso contrário, o prejuízo recairá para os consumidores.
Atuação coordenada – Para a ANTT, os esforços da agência são no sentido de ampliar a concorrência, mas reconhecem a necessidade de ajustes. A agência procura aumentar a capilaridade desses mercados e a concorrência no setor.
Ao final da audiência, os participantes reforçaram a importância do diálogo institucional, da atuação coordenada entre Ministério Público, ANTT, TCU e sociedade civil e da revisão das normas vigentes para garantir maior concorrência, segurança jurídica e, sobretudo, a proteção dos direitos dos usuários do transporte rodoviário.
O encontro ocorreu na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília.
Confira as fotos da audiência pública
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Fonte MPF
