Acordo histórico pela permanência da comunidade do Horto é assinado no Rio de Janeiro — Procuradoria da República no Rio de Janeiro

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Direitos do Cidadão

13 de Outubro de 2025 às 13h35

Acordo histórico pela permanência da comunidade do Horto é assinado no Rio de Janeiro

Cerimônia de assinatura foi realizada nesta segunda-feira (13), no Jardim Botânico, com a presença de diversas autoridades

Um grupo de sete homens, a maioria em trajes formais (ternos), está reunido em uma cerimônia de assinatura. O homem ao centro assina um documento em uma pequena mesa, enquanto os demais o observam, muitos deles sorrindo ou rindo. Um logo grande com as letras DPU (Defensoria Pública da União) é visível no fundo.


Foto: MPF

O Ministério Público Federal (MPF), por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) no Rio de Janeiro, assinou, junto a órgãos públicos e representantes da comunidade do Horto, acordo coletivo que garante a permanência da comunidade em área pertencente ao Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). O acordo foi homologado pela Justiça Federal na última sexta-feira (10) e assinado simbolicamente em cerimônia na manhã desta segunda-feira (13), no Jardim Botânico.

A cerimônia contou com a presença de diversas autoridades, entre elas o prefeito Eduardo Paes; o vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão; o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Marcio Macedo; o presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), Luiz Paulo da Silva Araujo Filho; e os desembargadores federais Flavio de Oliveira Lucas e Ricardo Perlingeiro, presidente e ex-presidente da Comissão de Soluções Fundiárias do TRF2, respectivamente.

O termo foi celebrado no âmbito de incidente de soluções fundiárias em trâmite no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) e busca conciliar o direito à moradia das famílias com a preservação ambiental e patrimonial do Jardim Botânico.

Assinam o documento, além do MPF – representado pelo procurador regional adjunto dos Direitos do Cidadão, Julio Araujo –, o JBRJ, a Associação de Moradores do Horto (AmahOr), a União, por meio da Secretaria-Geral da Presidência da República (SG/PR), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o município do Rio de Janeiro e a Defensoria Pública da União (DPU). A iniciativa é resultado de um processo de mediação conduzido pela Comissão de Soluções Fundiárias do TRF2, após provocação do MPF, reconhecendo o caráter coletivo e histórico do conflito fundiário.

Para Julio Araujo, a assinatura é, além de histórica, um marco para o tratamento de conflitos fundiários no país. “O Horto não merecia um desfecho diferente desse. Foram décadas de conflito e resistência da comunidade. Após muita luta por fazer valer o direito da comunidade, conseguimos neste caso mostrar que o conflito tem rosto e tem história e que essas pessoas cuidam desse espaço muito bem. Para promover direitos fundamentais, o sistema de justiça precisa estimular processos dialógicos de escuta e construção coletiva para tomar decisões mais justas”, afirmou.

Permanência regularizada – O acordo estabelece que o JBRJ apresentará, em até 30 dias, um plano de trabalho para formalizar termos individuais com os moradores.

A permanência dos moradores dependerá da comprovação de vínculo com antigos ocupantes autorizados ou da inclusão no cadastro de 2011, firmado entre o Iphan, a Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além disso, a regularização será condicionada à inexistência de risco geotécnico nas áreas ocupadas, com base em estudos técnicos realizados pela Prefeitura do Rio e pela Defesa Civil estadual.

Cada morador firmará um termo de acordo individual com o JBRJ, garantindo o direito à moradia e comprometendo-se com regras de convivência que proíbem a venda, a cessão ou o uso comercial do imóvel, exceto em casos de prestação de serviços compatíveis com a área residencial. As ampliações e reformas deverão respeitar as normas ambientais e dependerão de autorização prévia de uma comissão de acompanhamento, que terá participação paritária entre o poder público e a comunidade.

O acordo também cria uma Comissão de Acompanhamento Permanente, composta por representantes da SG/PR, do JBRJ, da Prefeitura e da comunidade do Horto, em composição paritária. O colegiado será responsável por monitorar a execução das cláusulas, propor ajustes e deliberar sobre casos de descumprimento, fortalecendo o diálogo contínuo entre os moradores e o poder público.

Com vigência permanente após a homologação judicial, o termo de acordo do Horto representa um marco na resolução de conflitos fundiários urbanos no país. O documento reconhece o vínculo histórico e social da comunidade com o território e reafirma o compromisso das instituições públicas com a conciliação, a proteção ambiental e o respeito aos direitos humanos e à dignidade das famílias que vivem há gerações no entorno do Jardim Botânico.

Histórico do caso – Desde 2021, o MPF, por meio da PRDC, atua para buscar uma solução conciliatória coletiva para o conflito. Em outubro de 2022, o MPF passou a estimular uma saída conciliatória, tendo provocado os órgãos para se manifestarem sobre a compatibilização dos bens jurídicos envolvidos (moradia, patrimônio público, meio ambiente), diante de ações de reintegração de posse contra centenas de famílias.

Ao longo de 2023, o MPF conseguiu a instituição de um grupo técnico na Secretaria-Geral da Presidência e a inclusão do caso na Comissão de Soluções Fundiárias do TRF2.

Em outubro do mesmo ano, o MPF emitiu recomendação ao Grupo de Trabalho Técnico (GTT) instituído pela Secretaria-Geral da Presidência da República para que o relatório final fixasse diretrizes claras garantindo a permanência da comunidade, com regras quanto ao uso dos imóveis, à sucessão hereditária, à vedação de uso comercial indevido, entre outras.

Em abril de 2024, o GTT entregou o relatório final recomendando a permanência da comunidade do Horto em área do Jardim Botânico, acolhendo orientações do MPF e estabelecendo diretrizes como limitação da expansão da comunidade, mitigação de riscos ambientais e integração das famílias às ações de preservação ambiental.

Após o relatório, a construção do acordo chegou a sua reta final. Nesse contexto, o MPF participou de audiências públicas que reuniram moradores, instituições federais, estaduais e municipais, ouvindo as demandas da comunidade e debatendo caminhos jurídicos, urbanísticos, ambientais e sociais para a regularização da ocupação.

Em outubro de 2024, definiu-se a formalização de um termo coletivo de convivência, com especificações para realocação de famílias em áreas de risco e apresentação de laudos técnicos para apoiar as decisões.

A partir de então, os órgãos passaram a discutir a minuta do acordo. Em maio de 2025, os termos do acordo foram aceitos por todas as partes, dando início à tramitação para assinatura. “Foi um longo caminho, mas o resultado é gratificante. É hora de lembrar de todos aqueles que lutaram pela permanência do Horto, que eu simbolizo na figura do jurista já falecido Miguel Baldez”, destacou Araujo.

Assessoria de Comunicação Social
Procuradoria da República no Rio de Janeiro
Atendimento à imprensa: (21) 3971-9570 
 

 

Fonte MPF