Ação do MPF busca garantir serviços de saúde em reservas extrativistas no Amazonas — Procuradoria da República no Amazonas

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Comunidades Tradicionais

30 de Abril de 2025 às 16h55

Ação do MPF busca garantir serviços de saúde em reservas extrativistas no Amazonas

Processo busca resolver falhas nos serviços prestados nas reservas Ituxi e Médio Rio Purus

Foto mostra comunidade à beira do Rio Purus


Comunidade Cassianã Foto: extraída do Plano de Manejo da Resex do Médio Purus disponível no portal gov.br

O Ministério Público Federal (MPF) moveu uma ação civil pública contra a União e o município de Lábrea, no Amazonas, buscando garantir a implementação e melhoria dos serviços de saúde para as comunidades das Reservas Extrativistas (Resex) Ituxi e Médio Rio Purus. A ação tem como objetivo principal a condenação dos réus ao pagamento de indenização por danos morais coletivos causados às comunidades, bem como a obrigação de assegurar a prestação adequada dos serviços de saúde nas reservas.

Segundo o MPF, a ação é resultado de um inquérito civil público instaurado em 2013 para apurar as condições de saúde nessas áreas. Apesar de recomendações e notificações enviadas ao município de Lábrea ao longo de 12 anos, a resposta foi considerada insuficiente, com relatos de atendimentos pontuais e ausência de um plano de ação efetivo.

As Resex Ituxi e Médio Rio Purus abrigam diversas comunidades tradicionais, que enfrentam dificuldades de acesso a serviços de saúde devido à localização geográfica e às peculiaridades da região. Na ação, o MPF ressalta que a prestação de serviços de saúde a essas populações deve considerar as especificidades culturais e as dificuldades logísticas, como o transporte fluvial, que é frequentemente comprometido na época da seca.

O MPF requer, em caráter de urgência, que o município de Lábrea apresente, em 30 dias um plano de ação para regularizar os serviços de saúde nas Resex, incluindo o mapeamento das populações, a implementação de um cronograma de visitas médicas e a garantia de transporte de emergência adequado. Além disso, pede a condenação do município ao pagamento de indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 250 mil para cada comunidade.

À União, o MPF requer a cooperação técnica e repasse financeiro para apoiar a implementação da política de saúde na região.

Precariedade – Em outubro de 2024, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) informou que a estrutura e o número de profissionais disponíveis não atendem à demanda da população, que necessita de consultas e exames periódicos.

Na Resex Médio Purus existem três polos de saúde, localizados nas comunidades de Cachoeira do Hilário, Realeza e Santa Fé, mas há frequentes reclamações sobre a má qualidade do serviço. A Prefeitura de Lábrea possui uma UBS fluvial, mas realizou apenas um atendimento em 2024.

Já na Resex Ituxi, a situação é ainda mais precária, segundo o MPF, não há polos de saúde nas 34 comunidades. A prefeitura mantém alguns agentes de saúde, mas não há informações sobre o número de profissionais nem registro de atendimento da UBS fluvial em 2024.

Moradores relatam que, apesar da existência do hospital fluvial, os atendimentos ocorrem apenas uma vez por ano. Para o MPF, essa situação evidencia o descaso do poder público, obrigando os moradores a se deslocarem por conta própria até Lábrea para consultas e exames. Emergências nos fins de semana, feriados ou à noite não são prontamente atendidas pela Secretaria Municipal de Saúde, dificultando o resgate de pacientes nas Resex.

A procuradora da República responsável pela ação, Janaina Mascarenhas, ressalta a urgência da atuação do Poder Judiciário para garantir os direitos básicos à vida e à dignidade dessas populações, historicamente marginalizadas e que demandam proteção especial do ordenamento jurídico brasileiro.

A ação pede o estabelecimento de multas diárias de R$1mil para o município e a União em caso de descumprimento das decisões judiciais.

Fonte MPF