Fiscalização de Atos Administrativos
5 de Novembro de 2024 às 11h5
MPEduc: 2ª audiência pública em Mirador (PR) elogia melhorias na educação básica e reitera desafios
Cidade se consolidou entre os dez municípios do Paraná com melhor evolução no IDEB de 2023
Foto: MPF
Dando continuidade ao trabalho iniciado em junho deste ano como parte do Projeto Ministério Público pela Educação (MPEduc), aconteceu, no dia 24 de outubro, a segunda audiência pública no município de Mirador (PR), referente à qualidade da educação básica nas escolas da rede pública da região. O projeto nasce desenvolve-se por meio da parceria do Ministério Público Federal (MPF) com o Ministério Público do Estado do Paraná (MPPR).
Na ocasião, estiveram presentes autoridades cerca de 16 autoridades, entre elas o procurador da República Bruno Alexandre Gütschow; a atual promotora de Justiça da comarca de Paraíso do Norte (PR) Bruna Britto Martins; o prefeito de Mirador Fabiano Marcos da Silva Travain; a secretária municipal de Educação Marta Ferreira Rodrigues; a presidente da Câmara de Vereadores de Mirador Márcia Ottesbach Vicente; os presidentes dos Conselhos Municipais e representantes das escolas do município. De forma remota, marcaram presença ainda representantes do Ministério da Educação (MEC) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE): Raquel Franzim, coordenadora-geral de Educação Integral e Tempo Integral, Ana Úngari, coordenadora-geral de Tecnologia e Inovação da Educação Básica e Eliane de Carvalho Silva, coordenadora substituta de Projetos Especiais do FNDE.
Mirador foi escolhido para receber o projeto no Paraná devido ao baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2021, atingindo 4,6 nos anos iniciais do ensino fundamental e 4,2 nos anos finais. Desde então, ocorreram alguns avanços significativos na qualidade do ensino.
A cidade foi listada entre os dez municípios paranaenses com melhor evolução no Ideb em 2023, conforme divulgação oficial em setembro de 2024: o índice subiu para 6,4, fato que não passou em branco na audiência. A administração municipal foi alvo de muitos elogios pelo esforço contínuo da gestão na manutenção dos investimentos na área da educação, adequando a infraestrutura das escolas, capacitando o corpo docente, revisando o plano de cargos e carreiras do magistério e apresentando projetos voltados a resultados de longo prazo. Ainda assim, foram abordados na reunião os muitos desafios que permanecem.
Reformas – O procurador da República Bruno Gütschow ressaltou a situação precária em que se encontra a Escola Municipal Eleodoro Ébano Pereira, com uma estrutura que apresenta fissuras, madeiras podres e paredes descascadas. O procurador ainda afirmou que a questão será acompanhada pelo corpo de membros do Ministério Público, os quais devem, no futuro, exigir a apresentação de cronogramas/prognósticos para a reparação da estrutura escolar, de modo a assegurar que a qualidade das edificações escolares reflitam a qualidade do ensino prestado pela equipe local aos seus alunos e alunas.
Questionado sobre a conservação da escola, o prefeito Fabiano Travain acredita que uma boa reforma seja capaz de resolver todos os problemas estruturais identificados, havendo o prognóstico de que sua realização ocorra após a consecução de duas outras reformas na área urbana. Sobre o financiamento das obras, disse que a cobrança do Ministério Público pode facilitar a obtenção de recursos junto aos governos estadual e federal.
O Projeto Escola Integral foi outra grande pauta na segunda audiência pública. O programa é uma das iniciativas do governo federal para a promoção da qualidade e da equidade na trajetória dos estudantes ao longo da educação básica, de zero a dezoito anos. Seu propósito é garantir que municípios e estados, sob a coordenação do governo federal, alcancem a Meta 6 do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê a oferta de ensino integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, atendendo, pelo menos, 25% dos alunos da educação básica.
No ano passado, com a instituição do programa “Escola em Tempo Integral”, o percentual de 15% de matrículas da educação básica da modalidade subiu para 18%. De acordo com especialistas, a jornada escolar ampliada assegura melhores resultados de aprendizagem, refreia a evasão escolar e se impõe como um mecanismo de proteção contra a violência e violação dos direitos da criança e do adolescente.
Mirador foi uma das localidades que participou do ciclo de adesão e pactuação do projeto em 2023. O município já recebeu uma pré-meta de matrículas para oferta de vagas em tempo integral e também uma assistência financeira para a aplicação efetiva do programa.
A coordenadora Raquel Franzim, do MEC, salientou a necessidade de que, mesmo que a meta de universalização das matrículas em tempo integral seja irrealista nesta etapa inicial, é crucial que as redes escolares planejem a oferta e ampliem-na de forma gradativa. Ela também ponderou os desafios envolvidos na execução dessa política pública, como financiamento e formação, mas também “sob a perspectiva da elaboração de um currículo que seja, de fato atrativo, significativo e contextualizado para os estudantes”.
A promessa do MEC é de que, em 2025, seja retomada a formação ofertada neste ano, agregando novos módulos, com o atendimento das modalidades de educação especial, educação do campo, educação quilombola e educação indígena. Segundo a prefeitura de Mirador, a ampliação da oferta de vagas da escola integral é dificultada pela falta de infraestrutura e investimento: “os repasses federais para a execução do programa não cobrem todos os seus custos, que são ampliados pela necessidade de oferta de alimentação, transporte e afins”.
Melhorias nas escolas – Na segunda visita às escolas municipais Carlos Chagas e Eleodoro Ébano Pereira, os integrantes do MPEduc observaram melhorias tecnológicas, com a instalação de equipamentos de informática e o aprimoramento no sinal da internet. Durante a audiência pública, os participantes abordaram o Programa Escolas Conectadas, lançado pelo MEC no final de 2023 com o objetivo de promover a inclusão cidadã e digital através da educação tecnológica segura e crítica. O ministério manifestou interesse nas informações colhidas em Mirador, a partir das visitas às escolas municipais, a fim de verificar se as suas estratégias estão alinhadas às necessidades reais da localidade.
No encerramento da audiência, o MPEduc foi elogiado pelos presentes, incluindo muitos professores que presenciaram as mudanças educacionais no município resultantes da atuação do programa. Para o procurador Bruno Gütschow, o projeto atua efetivamente na “guerra contra a ignorância e intolerância”.
A segunda audiência finaliza o trabalho do MPEduc em Mirador, mas o MPF continua acompanhando a educação pública no município, inclusive a rede estadual.
Projeto MPEduc – Lançado em abril de 2014, o MPEduc é fruto de parceria entre o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público dos estados. O objetivo do projeto é defender o direito à educação básica de qualidade. Por meio de audiências públicas, aplicação de questionários e reuniões com a comunidade, o MPEduc busca fazer um diagnóstico dos principais problemas enfrentados na localidade, construindo, de forma coletiva e democrática, possíveis soluções para as dificuldades identificadas. Atualmente, o projeto está sob a gestão da Câmara de Direitos Sociais e Fiscalização de Atos Administrativos em Geral do MPF (1CCR), responsável pela condução dos trabalhos em todo o país. Detalhes sobre o MPEduc podem ser conhecidos no site www.mpeduc.mp.br.
Na região sul do país, foram selecionados três municípios para participar do projeto: Barros Cassal (RS), Capão Alto (SC) e Mirador (PR). As cidades foram escolhidas em função de diagnóstico realizado com base no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e nos resultados do IDEB, além de dados referentes ao acesso a serviços básicos e às vulnerabilidades sociais.
O MPEduc envolve três etapas principais. A fase de diagnóstico tem como objetivo identificar a situação da educação no município – com enfoque no primeiro ao quinto ano do ensino fundamental – e dos possíveis pontos de melhoria. Já a fase de execução visa à adoção de medidas cabíveis pelo MPF e pelos Ministérios Públicos estaduais, priorizando a atuação conciliatória e informal em detrimento da atuação repressiva judicial ou extrajudicial. Por fim, a terceira e última fase do programa é a de prestação de contas, etapa que marca a apresentação dos resultados obtidos.
Ministério Público Federal no Paraná
Assessoria de Comunicação
(41) 3219-8870/ 8843
Fonte MPF