11/8/2025 – “A gente escolhe um monte de coisa na vida, e a vida também escolhe um monte de outras coisas para nós que não tinham nenhuma correlação com o que a gente tinha pensado”, diz o, hoje, ministro do TST, Fabrício Gonçalves. Um jeito de olhar para trás e ver como as trajetórias que percorremos não são óbvias e como cada decisão, por menor que pareça, é capaz de criar os destinos que dão razão a vidas inteiras.
Aqui estão três histórias sobre escolhas: pelo Direito, pela advocacia, pelo trabalho e pelo estudo incansáveis. Depois, pela magistratura. Elementos comuns, é certo, a muitos que tomam essas mesmas decisões. Por isso, decidimos contá-las neste 11 de agosto, Dia do Adovgado e da Advogada, do Magistrado e da Magistrada. Uma forma de reconhecer desafios e conquistas de quem opta pelos ofícios do Direito.
São histórias de duas advogadas e um advogado que, hoje, ocupam postos do quinto constitucional como ministras e ministro do Tribunal Superior do Trabalho: Maria Cristina Peduzzi, Delaíde Miranda Arantes e Fabrício Gonçalves.
“O Direito foi o meu norte, foi a minha opção de vida”
Maria Cristina tinha apenas 15 anos quando saiu de Bagé (RS), na fronteira do Brasil com o Uruguai, para estudar em Porto Alegre. A escolha pelo Direito veio aos poucos, quando percebeu o próprio interesse pelas ciências humanas. Iniciou os estudos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e os concluiu na UnB, em Brasília, para onde se mudou aos 20 anos de idade.
A opção pelo Direito do Trabalho foi “circunstancial”, relembra: um convite feito pelo seu professor – o jurista Hugo Gueiros Bernardes – para estagiar na área. Depois, o convite para iniciar, no mesmo escritório, a carreira como advogada. Até que veio a decisão de abrir o próprio escritório.
Daí em diante, o caminho foi de muito trabalho e estudo. E, quando outras oportunidades se apresentaram, não restaram dúvidas: a escolha foi pela advocacia. Foi assim quando ingressou, por concurso, no cargo de procuradora do Ministério Público Federal; depois, no Ministério Público do Trabalho. “Eu realmente senti que a minha vocação era advogar e eu investi nisso todo o meu tempo. Eu me dediquei mais à profissão do que à minha vida pessoal.”
Carreira consolidada, escritório reconhecido e uma vaga do Quinto Constitucional aberta no TST. Aos 47 anos, ela decidiu se candidatar para o posto depois de receber ligações de amigos que relataram que o então presidente do Tribunal, Almir Pazzianotto Pinto, falara, durante uma entrevista televisiva, que gostaria de vê-la numa das – então – 17 cadeiras do TST. Seria, entre os ministros, a única mulher.
Eleita, escolhida, sabatinada, nomeada, ela tomou posse em 2001, tornando-se ministra do Tribunal Superior do Trabalho.
Para ela, a vasta experiência acumulada como advogada a gabaritou para o cargo que assumiria. “O advogado tem que batalhar na defesa de seu cliente. O juiz não pode ter paixões. Ele tem que ter equilíbrio e bom senso. Na magistratura, você tem que exercitar muito bem o ouvir o outro, porque isto é fundamental: ouvir as partes, os colegas”.
Em 2020, fez história ao se tornar a primeira mulher a presidir o TST em quase 80 anos. Durante sua gestão, que ocorreu em meio à pandemia da covid-19, buscou o diálogo institucional, fortaleceu a magistratura e reforçou o papel do TST na pacificação social. “Na magistratura, procurei sempre dar o melhor de mim.”
Raízes em Pontalina (GO) e uma vida dedicada ao Direito do Trabalho
Foi assistindo ao Tribunal do Júri, na pequena Pontalina (cidade que hoje tem pouco mais de 18 mil habitantes, em Goiás), que a jovem Delaíde Miranda viu nascer o interesse pelo Direito. As audiências, hoje ela relembra, eram uma das poucas opções “culturais” da cidade. “A minha aspiração era ser advogada”, diz.
Para viabilizar os estudos, foi preciso trabalhar. Primeiro, como doméstica; depois, como recepcionista. Também foi preciso ir morar na capital, Goiânia, cidade que oportunizou outras experiências profissionais em empresas e escritórios – que fortaleceram o desejo pelo Direito, curso concluído em 1980.
Um convite para estágio, ainda como estudante, a fez ter contato com a advocacia trabalhista pela primeira vez. “Foi um aprendizado da advocacia e de grandes lições de vida sobre o que fazer e o que não fazer para uma atuação ética, dedicada e diferenciada”. Aos poucos, as experiências moldaram sua visão profissional e viabilizaram a atuação em importantes sindicatos da capital goiana.
Foram três décadas de trabalho que consolidaram seu nome no ramo. Mas, como não poderia deixar de ser, também foram décadas de desafios. Na advocacia, ressalta, não há somente flores no caminho. Há “dificuldades, inseguranças e incompreensões”. A batalha para conciliar trabalho e estudos, pagar as contas, cuidar da família, criar os filhos. “Administrar o tempo, quando se tem a advocacia como profissão liberal, é um grande desafio, administrar finanças, gerir o escritório, atender bem a clientela, como foco e projeto de trabalho, são tarefas árduas”, diz.
Pouco depois de conquistar a sede própria do escritório, surgiu a oportunidade de concorrer à vaga de ministra do TST pelo Quinto Constitucional. Como preparação para a posse, transferiu a titularidade do escritório para familiares, que assumiram sua continuidade.
Empossada em 2011, tornou-se, à época, a sexta mulher do tribunal, já com 27 ministros.
De Brasília de Minas à Brasília; de advogado a ministro do TST
Natural de Brasília de Minas (MG), cidade que inspirou o nome da capital federal, o ministro Fabrício Gonçalves chegou ao TST em 2024, após mais de três décadas de atuação na advocacia trabalhista e na docência jurídica. Integrante da geração “filha da Constituição de 1988”, como ele mesmo define, trilhou um caminho que reuniu o movimento estudantil, a militância em entidades de classe e a presidência da seccional mineira da Ordem dos Advogados do Brasil, sendo o primeiro advogado trabalhista a ocupar essa função.
Com formação acadêmica iniciada na Universidade Estadual de Montes Claros e concluída na PUC Minas, começou a atuar, ainda como estagiário, em sindicatos e escritórios especializados. A escolha definitiva pela advocacia trabalhista veio no nono período da faculdade, com um estágio que redefiniu seus planos. Desde então, construiu uma carreira sólida, marcada pela defesa da Justiça do Trabalho e pela formação de novas gerações de juristas.
“A área trabalhista era tratada com muito desprezo. Tenho a alegria de ter sido da geração que viu isso mudar e, de certa forma, participei dessa mudança”, relembra. Sua experiência como presidente da OAB/MG também foi marcante: “O que a OAB trouxe para minha atual função na magistratura foi uma preparação para trabalhar em colegiado”.
A posse como ministro foi um momento simbólico em sua trajetória. Ao som de canções do Clube da Esquina, destacou uma das partes que mais o emociona: “Os sonhos não envelhecem”, disse, citando Milton Nascimento.
(Natália Pianegonda e Nathalia Valente/GS/JS)
Receba nossos conteúdos
Quer receber as notícias do TST em seu email? Assine a nossa newsletter.
Se quiser receber as notícias em seu WhatsApp, faça parte da comunidade do TST no aplicativo. Atenção: ao ingressar, os demais membros não terão acesso ao seu contato. Os envios de conteúdo são realizados uma vez por dia, em dias úteis.
Fonte TST